10/09/2023
Eu me sentia diferente das outras pessoas. Ok, todo mundo é diferente, mas, quero dizer no sentido em que todas, no fim das contas, encontram algo em comum, mas eu simplesmente não gostava das mesmas coisas.
De alguma forma que eu não compreendia, todo mundo parecia encontrar o seu grupo, mas eu nunca tinha um lugar. Como se fosse a peça perdida de um outro quebra cabeça tentando se encaixar.
Eu queria me encaixar. Eu não sabia quem eu era e, por não saber, tentei parecer com os outros. Tentei imitar suas ações, fingir gostar das mesmas coisas. Tanta frustração e estresse por tentar ser algo que eu simplesmente não era. Tanto sofrimento por tentar gostar de coisas que, na verdade, nem me interessavam.
Por vezes, acreditei ser uma pessoa ruim, por não saber lidar com as outras. Acreditei que não gostasse das pessoas, mesmo querendo tanto me aproximar delas, imagina a confusão na minha cabeça. Era mais fácil me afastar.
E na maior parte do tempo tinha esse muro em volta de mim, praticamente impenetrável. E por desejar tanto "fazer parte", ao longo dos anos, fui me distanciando cada vez mais de mim. Eu tentei tanto ser como os outros que esqueci como é ser EU.
Quais coisas eu gosto? O que me traz alegria? O que me motiva? Quais são meus valores? Meus sonhos? O quanto de mim é realmente o que eu quero e o quanto é só vestígio dessa máscara tão difícil de arrancar?
Saber do autismo - depois de toda a dor por não ter descoberto antes - tira de mim o peso de coisas que não são minhas, que são, na verdade, parte de um transtorno. Minhas dificulades têm nome e têm, em grande parte, maneiras de lidar, melhorar, compensar. E em vez de tentar fugir de mim, eu posso finalmente pegar o caminho de volta e tentar encontrar o que se perdeu.
Eu nao sou o transtorno, mas ele faz parte de quem eu sou. Eu não preciso tentar ser igual porque realmente não sou e está tudo bem. Ou está ficando.
💛 Aline