07/01/2021
Quando o analisando chega no consultório pela primeira vez, imagina que o analista possui um saber sobre o seu sofrimento. Daí Lacan deduziu a noção de Sujeito Suposto-Saber, que, segundo ele, é o verdadeiro motor da análise (porque o estabelecimento da transferência só será possível a partir da suposição de saber no analista).
Todavia, o analista não deve se colocar neste lugar, porque, obviamente, ele não sabe e nem poderia saber antecipadamente o que se passa no psiquismo do analisando. O Sujeito Suposto-Saber não passa, portanto, de uma ilusão do analisando a respeito da pessoa do analista.
Assim, não é para a pessoa real do analista que o analisando direciona o seu discurso a fim de que, como aquele que domina o saber concernente ao Outro, o analista "maneje" o seu (do analisando) sofrimento ["a última concepção lacaniana sobre o lugar do analista na direção do tratamento é o de objeto e não o de sujeito", para citar Marco Antônio Coutinho Jorge], mas seu discurso é dirigido para o Outro, esperando que o inconsciente responda à evocação de sua palavra plena de desejo.
O analista aparece na cena não como um sujeito, mas apenas como uma espécie de editor, que vai retirando os excessos da linguagem no processo de significação do sujeito. O analista é um coadjuvante, não opera o papel principal; os protagonistas do processo psicanalítico são o analisando, seu desejo e o inconsciente.