20/08/2025
O feminicídio é a face mais extrema da dualidade amor e ódio. O objeto amado, quando se recusa a ser posse, passa a ser alvo da hostilidade. Em uma cultura que sustenta o discurso do “ter”, a mulher é frequentemente tratada como propriedade. Quando reivindica autonomia, o homem, incapaz de simbolizar a perda, vivencia a frustração como ferida narcísica e transforma o amor em ódio letal.
A arma de fogo, nesses casos, não é apenas instrumento, mas símbolo fálico, expressão de um poder fraturado que se repõe no real pela destruição. Os dados confirmam: em 2025, o Brasil registra aumento expressivo de feminicídios cometidos por arma de fogo, a maioria dentro de casa e praticados por parceiros ou ex-parceiros. O espaço íntimo, que deveria ser lugar de afeto, converte-se em cenário de aniquilação.
O ato de matar revela a incapacidade de simbolizar a falta e a recusa de reconhecer no outro um sujeito. Mata-se não apenas o corpo, mas a possibilidade de existir livremente.
O desafio é cultural e psíquico: aprender a suportar a frustração sem transformar o amor em ódio e a perda em destruição.