17/12/2024
“O ganha-pão dos psicanalistas baseia-se no fato de que escuta não é apenas acolher
incondicionalmente o que o paciente diz em toda a sua inteireza, apreciando-o como uma obra de arte, completa e organizada em si mesma, por suas próprias regras e razões. Escutar não é, definitivamente, funcionar como um espelho gratificante apreciando tudo que o outro diz, batendo palmas para qualquer manifestação e aceitando o que quer que seja, única e exclusivamente, porque procede daquela pessoa.
Palhaços e psicanalistas são pagos para dizer o que as pessoas não querem ouvir, ainda que
digam o contrário. Somos pagos para contrariar nossos clientes. Para dizer aquilo que seus entes mais queridos, por amor, por proximidade perspectiva ou por pena, jamais dirão. Aquilo que seus oponentes e inimigos mais terríveis vivem gritando, mas do qual eles não conseguem extrair o grama de verdade diluído no litro de veneno.
Nessa profissão, os outros nos pagam para que nós os façamos trabalhar. Trabalhar com seus
sonhos e com suas relações de amor, com seus sofrimentos e sintomas, com seus impasses e vazios, com suas crises e tédios. Ao final, o que queremos é que nossos pacientes se levem um pouco mais a sério, que sejam um pouco mais implicados em seus desejos e sonhos, em suas palavras e em seu cuidado de si, que sejam capazes de escutar, a si e aos outros (o que traz um benefício generalizado para a vida de alguém). Mas, por outro lado, e isso é quase um consenso
entre as várias orientações da psicanálise, queremos também que nossos pacientes não se levem tão a sério, que sejam, como um palhaço, capazes de rir de si mesmos, de aceitar suas mazelas e vulnerabilidades, de serem menos cruéis com suas autoexigências e ideais (o que sempre é uma bomba de dispersão genérica de infelicidade).”
Trecho do livro “O palhaço e o psicanalista” de Cristian Dunker e Cláudio Thebas.
Sou psicóloga, psicanalista e palhacinha nas horas vagas. Uma coisa complementa a outra e ambas preenchem meu coração! 🥰