24/10/2025
HOSPITAL SANTA RITA
O Hospital Santa Rita, que comemorou recentemente 52 anos de existência, faz parte da memória e do ideário de muitos douradenses, pois em algum momento, algum membro da família ou a própria pessoa, passaram por algum tipo de atendimento naquele hospital.
Eu cheguei em Dourados em 1988 e iniciei meus trabalhos como pediatra no Hospital Evangélico, onde trabalhei como médico do SUS por 5 anos. Quando fui convidado pelo dr. Sergio Marra, que era sócio do Santa Rita, para atender e dar plantão naquele hospital. Em seguida, comprei as suas cotas da sociedade e me tornei sócio de uma pequena parte das ações da empresa. Durante 30 anos, atendi diuturnamente os meus pacientes no Santa Rita, onde nasceram duas das minhas filhas, onde faleceu meu pai, enfim, tive uma longa e profícua história com o hospital.
Em 2014, percebi que aquilo que eu arrecadava no meu consultório, mal dava para pagar as despesas que tinha com aluguel, despesas com energia, água, salario de secretaria, etc. Decidi fechar o meu consultório particular e partir para atender os pacientes no Ambulatório de Pediatria do hospital. Mesmo tendo que pagar algumas taxas a titulo de despesa de uso de sala, ainda assim, passou a sobrar mais dinheiro com essa atitude. Logo em seguida, fui convidado para compor a diretoria que dirigia a entidade e lá fiquei por vários mandatos, tendo sido diretor administrativo, diretor técnico e por último, fui eleito diretor clínico do corpo médico, quando a direção da empresa havia mudado e o Dr. José Carlos Chaves assumiu como sócio majoritário da empresa. Foi quando eu vendi o restante de minhas cotas para ele e saí da sociedade. Logo em seguida, decidi reabrir o meu consultório em 2021 e reiniciar a carreira como profissional liberal, em vez de médico ligado a hospital.
Ao longo dos anos, assistimos à deterioração das condições financeiras e administrativas do hospital, que se manifestava, para quem estava de fora, por atrasos nos pagamentos para os funcionários, com greves e manifestações de protestos devido à esses atrasos, por suspensões de atendimentos em ambulatórios e pronto socorro de pediatria e outras especialidades. Isso tudo, fartamente noticiado pela imprensa local.
Até que parecia ter surgido uma luz no final do túnel, quando surgiram boatos de que o hospital seria vendido para a Unimed. De repente, é noticiado que o hospital seria arrendado para uma empresa do Acre. E aparece uma foto do responsável pela empresa com a figura de um deputado conhecido da cidade.
E outra vez, através da imprensa, f**amos sabendo que estaria ocorrendo desavenças entre os antigos donos e os novos donos, de tal maneira que a cada semana, um grupo entrava com liminar na justiça, para determinar quem estaria no controle administrativo do empreendimento.
Por ultimo, surge a noticia do descredenciamento do convenio da Unimed, por falta de documentos dos novos donos.
Isso tudo nos causa uma profunda tristeza, um sentimento de que uma era de ouro da saúde de Dourados está se encerrando, de maneira lamentável.
Sabemos que o ramo de prestação de serviços em saúde, principalmente de hospital é um dos empreendimentos com maior risco financeiro, com margem de lucro baixíssimo, com extrema dificuldade de ser gerido e que causou, ao longo dos anos, a falência de diversos grupos, como aconteceu com a Policlinica Santa Cruz, que foi incorporado pela Cassems, o Hospital Santa Rosa, que virou Pax Primavera e fechou a unidade hospitalar. E agora, assistimos ao ocaso do Hospital Santa Rita.
Para mim, como médico, com certeza o pior negócio que eu poderia ter me metido ao longo da vida, foi ter me associado ao hospital. Durante longos 30 anos, nunca recebi um centavo sequer a título de dividendo, de rendimento positivo do hospital. Muito pelo contrário, se fosse contabilizar todas as chamadas de capital ao longo do período, com certeza daria para comprar algumas fazendas, ou alguns apartamentos luxuosos.
Agora, não mais como sócio, mas sim como cidadão douradense, assisto a toda essa crise com tristeza, com o sentimento de que, mais uma vez, quem está sendo prejudicado são os funcionários do hospital que f**am meses sem receber os seus salários, os médicos que continuam trabalhando, muitos deles também sem receber em dia seus honorários e, principalmente, a população, que vê uma porta de atendimento que por décadas era uma referencia em termos de saúde e que agora, vê todo esse problema administrativo e politico comprometendo a capacidade e a qualidade de atendimento à saúde da população.
Triste por tudo isso!!!