08/08/2022
A COSTRUÇAO HISTÓRICA DA SAÚDE MENTAL DE BAGÉ
Bagé é um dos municípios precursores na atenção ao sofrimento psíquico, pois desde 1975, diferenciava-se do modelo manicomial vigente na época. Os trabalhadores de saúde já entendiam que a loucura inserção no contexto social: de um lado a doença, enquanto desiquilíbrio psíquico; e de outro a vida de faltas das pessoas pela exclusão dos direitos. Era preciso romper com a prática do aprisionamento no tratamento dos loucos.
O percurso histórico que favoreceu a invenção de novos modos deu-se de forma muito peculiar: quando doentes mentais necessitavam de intervenção hospitalar e possuíam carteira do INPS (documento de inscrição junto ao Instituto como trabalhado formal)
eram encaminhados para o hospício, porém, aqueles que eram ditos "indigentes" e os oriundos do Fundo Previdenciário Rural (FUNRURAL), podiam internar-se na Santa Casa, hospital geral do município. A falta do direito acabou, paradoxalmente, beneficiando, porque as pessoas que trabalhavam com a questão da saúde nas instituição e a própria comunidade foram aprendendo que era possível atender essas pessoas num hospital geral e junto às suas famílias, de forma humana. O paradigma a cura precisava ser substituído pelo cuidado com a pessoa que está atrás do diagnostico técnico, com sua inserção na sociedade, com a multiplicação de relações sociais.
As ações práticas que se seguiram foram geradas por fatores históricos. A redemocratização do município acompanhou a nacional e junto, surgiram mudanças na saúde, redefinindo conceitos, práticas e implementações: o Movimento das Diretas Já a VIII Conferência Nacional de Saúde mental(1986), a I Conferência Estadual de Saúde Mental(1987), a implementação da Política de Atenção Integral em Saúde Mental (PAIS Mental).
Em 1988, a Santa Casa de Caridade de Bagé, transforma-se em um "hospital filantrópico", permitindo internações de pacientes psiquiátricos, independente de ser previdenciário ou não, levou ao decréscimo progressivo de internações em manicômio.
A primeira Oficina de Criação Coletiva (assim denominada pela equipe, usuários, voluntários), foi criada em Setembro de 1991, na Santa Casa de Caridade de Bagé; a segunda em Janeiro de 1992 na sede do serviço (7ª Delegacia Regional de Saúde). O nome "Criação Coletiva" contemplava atividades artística (desenhos e pinturas) e artesanais ( trabalhos em couro e cerâmica). A atenção visava a autônima do usuário.
Em 1994, nasceu a Casa Moradia, com 14 pacientes, alguns deles provenientes de galpões da Secretaria Municipal de Ação Social, outros provenientes dos manicômios e das ruas.
A Oficina de Criação Coletiva atua como espaço produtor de diferentes subjetividades, acolhendo a loucura como um fenômeno humano e oportunizando diálogo, acolhimento, ocupação, lazer, enfim, vida com autonomia.