06/12/2025
Na última semana precisei atender 3 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes envolvendo flagrantes. Um dos casos veio através da Polícia Federal e me tomou bastante tempo. Esse tipo de crime é um dos maiores desafios para o sistema de justiça criminal, devido à ausência de testemunhas, à fragilidade psicológica das vítimas e à natureza íntima do ato.
Nos bastidores do meu trabalho como psicólogo da Polícia Civil em Foz do Iguaçu, tenho enfrentado uma realidade complexa. Sou o único profissional designado para a Escuta Especializada de crianças e adolescentes vítimas de violência na Tríplice Fronteira, uma região estratégica que une Brasil, Paraguai e Argentina, onde existe intensa circulação de pessoas e favorece crimes transnacionais, incluindo tráfico de pessoas, dr**as e armas.
Atuo no NUCRIA - Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes, unidade da Polícia Civil do Paraná. Porém, casos urgentes envolvendo flagrante chegam de múltiplas frentes: Delegacia da Mulher, DEA e operações da Polícia Federal contra redes de abuso sexual infantil.
Meu trabalho começa muito antes da entrevista com as vítimas. Preciso me aprofundar no estudo de documentos: assisto vídeos de depoimentos de agressores, leio conversas em aplicativos de mensagens, observo imagens de câmeras de segurança, e leio os boletins de ocorrência. Essa análise prévia faz parte do meu trabalho de psicologia investigativa. É essencial compreender a dinâmica da violência, as ameaças e barganhas utilizadas pelo agressor, e o contexto da relação, pois me permite planejar cada abordagem da escuta com as vítimas de forma personalizada. Preciso estabelecer, em apenas 1 hora, um vínculo genuíno com quem, na maioria das vezes, é a única testemunha ocular.
É duro escutar os detalhes das violências que essas crianças e adolescentes sofreram. Suas palavras evocam imagens que permanecem na memória, carregadas de dor, medo e injustiça.
Mesmo com todas as dificuldades, o que me motiva todos os dias é oferecer às vítimas que enfrentaram violência um espaço seguro para serem ouvidos. Cada relato tem valor, e minha responsabilidade é acolher essas vozes sem causar mais dor, ajudando a transformar experiências traumáticas em oportunidades de reconhecimento e proteção.