12/01/2020
O psicanalista das empresas
Paulo Ricardo Ferreira * Professor Universitário
Grande parte dos administradores procuram resolver os problemas de suas empresas repetindo a trajetória seguida por outras organizações. É o famoso benchmarking, tão em moda por aqui. Ao copiar soluções que deram certo em algum lugar, muitas vezes os gestores acreditam que vão superar a crise. No primeiro momento, algumas vezes até conseguem resultados positivos, mas logo o problema reaparece mais forte, com anticorpos que tornam a sua solução ainda mais difícil.
Assim como as pessoas, as empresas possuem dinâmicas invisíveis a olho nu. Possuem personalidade própria, que exige tratamento individual. Não existe cartilha ou saída mágica. É preciso radiografar a alma da empresa, desvendar seus segredos, para poder tratá-la terapeuticamente. Nesse sentido, um consultor ou treinador assemelha-se a um psicanalista. Deve estudar com profundidade a história do paciente, os traumas, os conflitos e as peculiaridades. Precisa conhecer os agentes internos e externos, estabelecendo relações que extrapolem as análises rápidas e rasas. Aplicar o mesmo remédio que deu certo em outra instituição traz mais riscos do que possibilidades de acerto.
A chegada de um consultor numa empresa gera ansiedade, talvez como a primeira visita a um psicoterapeuta. É a relação do doente com o médico, Necessita empatia, confiança. Mas, muitas vezes, a história acontece de outra forma. Vaidosos ou arrogantes, alguns provocam a resistência, nasce a “rádio corredor”, onde circulam boatos sobre demissão, redução de salários, corte de benefícios e todo o tipo de especulação.
Por outro lado, as informações sobre a empresa, transmitida por gerentes de todos os níveis, chegam maquiadas. Aparentemente a empresa não tem problemas. Por que ajuda externa? Exatamente para encontrar nas entrelinhas, aquilo que não é dito. Descobrir o que acontece nas sombras.
Um consultor deve ter sensibilidade para enxergar o invisível. Precisa capacidade para interpretar sonhos, desejos, frustrações e tudo aquilo que não pode ser quantificado pelos controles já existentes. Não basta ter teoria e esconder-se dentro de ternos bem cortados. Deve ter a sabedoria para não adotar soluções óbvias, disponíveis nas revistas técnicas da semana (que substituo por “redes sociais por aí”).
Saber interagir com o grupo, garimpando informações aparentemente sem utilidade, é outra importante tarefa, a criatividade deve estar presente na formulação das perguntas certas, feitas com respeito e coragem. As novas ideias devem ser propostas como desafios que sirvam para agregar o grupo.