23/01/2019
Como sair do sofrimento?
Não se “negocia” com a pulsão. Ela não cede de seu gozo, seu modo de satisfação, e insiste em repetir-se sempre, ainda que seja pela via do sofrimento. Quando alguém se refere ao seu sofrimento como algo que pode-se medicar, anestesiar, adiar, recalcar, “esquecer”, “perdoar” ou “compensar”, se engana e permanece nele. É a existência desse sofrimento, o de cada um, que leva alguém a decidir submeter-se a uma análise na direção da uma cura. Tal sofrimento, cabe a cada um enfrenta-lo com coragem e valentia. Ninguém poderá negar, fugir, evitar, medicar o sofrimento neurótico de modo exitoso, sem agravá-lo e fortalecê-lo ainda mais. Não há solução química para o sofrimento psíquico - a medicalização, tão na moda! Todos os métodos que nao consideram o sujeito, o inconsciente, o gozo, estão fadados ao fracasso, porque a pulsão não está de acordo e nada a impedirá de consumir-lo pelas vias dos suplícios. Mais cedo ou mais tarde, cada um terá de haver-se com a pulsão que o determina, enfrentar-se com o seu próprio sofrimento, contar sua história e falar dele dizendo tudo o que sabe e também o que não sabe, se quiser supera-lo e sair dele. Sofrimento como o luto de cada perda, ainda não elaborado, a culpa superegoica, o desejo não admitido, a verdade não reconhecida, a responsabilidade não assumida, etc., são feitos e efeitos de palavras, e que somente pela palavra, podem vir a ser desfeitos. Não há alternativa que não seja a de enfrentar pela palavra e dizer o próprio sofrimento para reconciliar-se com a verdade e com o desejo, inconsciente até então, se quiser sair dele. Uma análise pessoal faz economizar o tempo e a vida. Muitos só se dão conta quando tudo já se passou e já não lhes resta mais que um pouco tempo para viver.
Jorge Sesarino