26/10/2025
Um dia o Bento virou pra mim e disse:
— Papai, sabe qual é o dia da semana que eu mais gosto?
— Qual, filho?
Ele sorriu e respondeu:
— Domingo.
Perguntei por quê.
E ele, com a simplicidade que só uma criança tem, disse:
— Porque é o dia que todos nós aqui em casa f**amos juntos o dia inteiro. Eu, o senhor, a mamãe e as minhas irmãs. É o dia que a gente anda de bicicleta, joga futebol, conta histórias, br**ca, lava o carro juntos.
Hoje foi um domingo como esse.
Não foi aqui em casa, mas na chácara dos meus pais — os avós do Bento.
E ali nós nos divertimos pra valer, passamos o dia inteiro juntos.
Lembrei-me de uma conversa que tive ainda na época da residência.
Um cirurgião mais velho, já com seus 70 anos, me disse algo que nunca esqueci:
“Se eu pudesse voltar atrás, teria trabalhado menos e vivido mais tempo com meus filhos. Hoje, já não sou mais casado, não tenho tanta ligação com os meus filhos e, dificilmente, vejo os meus netos.”
Naquele tempo eu era apenas um jovem médico, cheio de sonhos, e essa frase ficou gravada em mim. Eu prometi a mim mesmo que não deixaria o trabalho roubar o tempo da minha família.
Hoje, tantos anos depois, vejo que o desafio é real. Trabalho mais do que gostaria, e nem sempre consigo estar presente como desejo. Mas sigo lutando por esse equilíbrio — para que o sucesso profissional nunca custe a alma dos meus filhos, nem a serenidade do meu lar.
A presença transforma. Ela educa, molda e deixa marcas que o tempo não apaga.
Nenhum presente, viagem ou conquista substitui o valor de estar junto — de olhar nos olhos, contar uma história, dar um abraço.
Minha vocação primeira é ser esposo e pai.
A medicina vem depois — como um serviço, nunca como um fim em si mesma.
E se há algo que quero deixar aos meus filhos, é a certeza de que o amor sempre se mede pelo tempo que se doa.