05/12/2025
A psicologia moderna se estabeleceu como uma ciência da interioridade, ocupada em analisar e revelar o “verdadeiro eu” por trás das condutas e dos discursos, buscando explicar e descrever os sofrimentos e os comportamentos a partir de causas internas – traços, padrões, estruturas psíquicas e disfunções mentais –, transformando a vida em objeto de análise, categorização e administração.
Nesse procedimento, o sujeito passou a ser psicologizado: reduzido a uma identidade e personalidade psicológica, interpretado segundo normas e desvios, entendido a partir de uma estrutura de desenvolvimento e categorias psíquicas, tendo sua existência alocada num modelo que desconsidera a singularidade, as diferenças, a complexidade da vida e os atravessamentos sociais.
"(...) a psicologia se tornou, na cultura ocidental, a verdade do homem."
(Michel Foucault, em ‘História da Loucura’)
Despsicologizar a vida sugere romper com a normalização e o controle, retomando a arte de viver como uma prática ética e estética de si, onde a vida não é encarada como algo a ser explicado, categorizado ou ajustado, mas experimentada em suas incertezas e singularidade. Em vez de olhar os dilemas e conflitos a partir de um enquadramento psicológico, trata-se de problematizar a lógica que os aprisiona.
Isso nos exige um deslocamento - em deixar de lado a psicologização dos sujeitos para escutar as diferenças, os movimentos, os afetos e os rompimentos. Ao invés de buscar identidades, descrições ou categorias, trata-se de afirmar o devir enquanto processo e fluxo em transição permanente, entendendo a vida como algo complexo e múltiplo, e não unitário e identificável.
Despsicologizar a psicologia e a vida propõe romper a normatização e ao controle, retomando a arte de viver como uma prática ética e estética de si...