03/07/2025
Desde que cheguei à Maquiné ouço: “tu tem que conhecer a Farmacinha”.
A Margarida foi a ponte. Era cuidadora da minha tia-avó e morava com ela aqui do lado de casa. Vez ou outra nos encontrávamos no jardim - casas de interior, sem muro, sabe? Falávamos sobre o sol, o vento, algum chá… ela foi uma das que me disse que eu tinha que conhecer a Farmacinha, e me deu o telefone de dona Maria, essa aí da foto.
Eu liguei, descobri que a casa abria toda quarta e combinei de encontrar com dona Maria numa encruzilhada lá pro fundo - caminho entre nossas casas e a farmacinha.
Naquela tarde estávamos só nós duas. Lavamos frascos, limpamos as cascas de açoita-cavalo e mulungu, proseamos sentadas na porta de entrada.
Eu, com meu humilde laboratório caseiro de cerca de 10 tinturas, encontrei naquela casa bem simples um quartinho com mais de 100 garrafas etiquetadas em prateleiras de madeira. Dona Maria não via glamour, esse é o trabalho dela há 33 anos. Toda quarta ela sai de casa, desce o morro e vai na direção desse serviço que ela conta que a salvou: “se não fosse esse serviço, não sei o que seria de mim, guria”
São muitas histórias entrelaçadas no sustento desse espaço e no serviço à vida nesse fundão de zona rural…
Às vezes, para quem vê de fora, morar no interior pode parecer muito pacato. Mas a realidade aqui é mais pique faroeste, sabe? Muita dor, doença e luta junto de toda a beleza, natureza e floresta.
Lugares como a Farmacinha garantem o sentido, a dignidade, a voz e o espaço das mulheres. Colam essa unidade há tanto quebrada. Do corpo da terra como caminho. Tecer juntas um tempo de respiro, de inspiração, pé na terra, escuta, capina do quintal, falar sobre o que nos importa.
Nesse mês de Julho será lançado o livro “Mulheres, plantas e luta: histórias da Farmacinha Comunitária Filhas da Esperança”, o qual fiz parte da equipe de pesquisa. Vale a pena prestigiar o lançamento e adquirir um exemplar, conhecer de verdade alguns detalhes que nunca antes foram contados e que são muito significativos para entendermos de fato porque esse espaço é tão importante e resiste há tantos anos. Para acompanhar, basta seguir o insta da 🍃 ⚔️