21/07/2025
Eu sei que hoje talvez não seja um dia comum, talvez os últimos dias, meses ou anos também não sejam ou estejam dentro daquilo que consideramos "normalidade."
Aliás, o que seria normalidade? Monotonia? Estabilidade? Saúde? Felicidade? Seria a "felicidade" um padrão considerado normal? Quem dita as regras?
Quando alguém morre, seja por câncer ou qualquer outra doença, f**amos pensativos, analíticos, remexidos. Quando alguém morre, sendo este famoso ou não, por algo parecido com aquilo que enfrentamos diariamente, é impossível não ter algum grau de identif**ação e receio.
A trajetória não é fácil, e muito menos romantizada. As quimioterapias duram horas, os vômitos, oscilações de humor, queda de cabelo, náuseas, quebra e escurecer das unhas, olfato sensivel, tudo é, e passa a ser notável. Às vezes tudo isso conciliado às radioterapias que por muitas vezes causam queimaduras, sensibilidade na pele, diarréias e fraquezas.
Às culpas surgem entre palavras, outros culpam a Deus. A negociação e o medo frente a tudo isso vem à tona. Seria merecedor disso? Dar tanto trabalho? Quem sustentará a casa? Quem me sustentará? O medo entra em cena. A insegurança também.
Por outro lado, os amigos reais se aproximam. Familiares sejam de sangue ou não, nos afaga. Quem a gente achava que não consideraria considera, as surpresas chegam. A fé aumenta. O amor se materializa e nos visita a cada ato.
Talvez o câncer seja a doença do avesso.
Inverte nossos valores. Nossas urgências. Nossa vida.
Nos despe daquilo que tínhamos como prioritário, e realmente sobra o de mais real que resta: os vínculos.
E a vida? A vida continua acontecendo, não pede licença. Pessoas continuam se casando, outras nascendo, outras adoecendo, e sobretudo se curando.
Talvez aquele badalar do sino no fim do tratamento seja um recomeço, ou talvez a gente não precisa de um sino quando a gente tem o hoje e suas possibilidades.
Têm curas que são somente nossas.
E não precisam ser justif**adas à ninguem.
Sintam-se abraçados.
Maria Eliza Vilela
(Psicóloga clínica e hospitalar)