20/06/2022
Por vezes, recebo pacientes trazidos por familiares que se mostram reticentes e desconfiados em iniciar um tratamento para obesidade, e dizem que seu problema principal é “gostar de comer” e não querem que se tire esse prazer. 👉Nesse sentido, é importante ressaltar que um bom tratamento não tem como objetivo reduzir o prazer de comer, que não é, por si só, um problema (comer bem é muito bom mesmo!). 👉É claro que para perder peso é necessário comer menos calorias e isso pode sim significar reduzir o número de refeições livres ou mais calóricas, mas com um bom acompanhamento multiprofissional é possível mudar o foco para ampliar opções alimentares que sejam prazerosas sem serem tão calóricas, e focar em retirar comidas supérfluas que nem sempre estão associadas a um prazer intenso, e às vezes são mais relacionadas a um impulso (guloseimas que comemos com a mão em casa, por exemplo). 👉Particularmente, acho mais difícil conseguir resultados com quem diz que “é chato para comida”, e come sempre as mesmas coisas (aí sim a única opção é restrição) do que quem diz que adora comer bem e tem variedade (focando mais em ampliar legumes, verduras, preparações diferentes, etc). 👉Mais ainda: ao buscar reduzir aquilo que comemos mais mecanicamente abrimos até mais possibilidades de usufruir melhor aquelas refeições especiais, sem uma sensação de culpa (mas também sem perder o controle das porções). 👉”Comer por recompensa” não está errado (todos gostamos de comemorar eventos em restaurantes), mas muitas vezes o que acreditamos ser recompensa é somente um impulso que racionalizamos como recompensa. Por ex: vejo um doce, quero comer e “arrumo uma razão” para me sentir menos culpado, como “trabalhei muito hoje e mereço”. 👉Não me entendam mal ou pensem que quero romantizar o tratamento: tratar a obesidade é difícil e exige sim esforços contínuos, mudança de hábitos e de ambiente. Mas se o plano alimentar proposto incluir alimentos que você não gosta, ou não permita alguns que goste de verdade, a chance de sucesso é muito menor que um que leve em conta seus gostos, preferências e admita que comer é muito mais que um ato fisiológico, mas também de prazer, social e cultural.