31/03/2018
Publicação compartilhada da Dra. Ana Claudia Brandão “Quase toda semana sou questionada por alguma família, no consultório, sobre a epigalocatequina (EGCG): "posso dar para meu filho?"
Famílias com os filhos(as) das idades mais variadas.
Sim, temos vontade de ver melhorado alguns aspectos cognitivos de nossos filhos, pois intuímos que isso poderia trazer em ultima instância, melhora de performance em atividades da vida diária, e talvez, melhor autonomia.
O texto do link lá de baixo deste post está muito bom!
É um resumão dos estudos em modelos celulares e em modelos animais (estudos pré-clínicos) e descreve um pouco os dois únicos estudos realizados em humanos com SD. Realmente, estamos longe de qualquer conclusão sobre se há ou não benefício com o uso da epigalocatequina. Muitos estudos pré-clínicos, pouquíssimos estudos clínicos! E como o que é seguro e eficaz pro camundongo, muitas vezes não se replica nos humanos, precisamos aguardar para termos conclusões assertivas.
Vale a leitura do artigo pra vocês tirarem as próprias conclusões (está em espanhol, então, facilita a leitura).
A ultima parte do texto, que é uma reflexão da DownCiclopedia, eu traduzi abaixo:
"COMENTÁRIO FINAL DO DOWN21
Durante décadas, desde que a síndrome de Down foi definida e caracterizada, dezenas de produtos milagrosos - que curam ou que melhoram - foram promovidos e usados com os correspondentes fracassos, porque eles não estão bem fundamentados. Mas as famílias, logicamente ansiosas para oferecer a seus filhos um remédio miraculoso para ajudá-las, e até mesmo substituí-las, na constante atenção que precisam disponibilizar, as aceitaram e seguiram. Qualquer coisa desde que supostamente melhore a saúde física, a atividade cognitiva, os comportamentos difíceis e, atualmente, o envelhecimento precoce, é bem vinda.
A epigalocatequina surge neste ambiente complexo como uma substância muito especial. O artigo exposto resume realidades importantes. Primeiro, nasce de uma hipótese cientificamente correta e validada. Em segundo lugar, é uma substância natural presente em certas proporções no chá verde, juntamente com outros produtos. Terceiro, estudos pré-clínicos (isto é, antes de serem testados em seres humanos) realizados in vitro (modelos de células) e em modelos animais de síndrome de Down (camundongos) mostram sua capacidade de melhorar parcialmente certos aspectos do déficit observáveis também na síndrome de Down, embora os resultados nem sempre sejam constantes. De qualquer maneira, não recupera totalmente as alterações cerebrais existentes. Em quarto lugar, ele foi testado em adultos jovens com síndrome de Down, em um estudo clínico com metodologia aparentemente correta, projetado por um grupo que oferece experiência garantida.
O problema aparece ao se avaliar os resultados, sempre moderados, e contemplar a propaganda incomum que foi feita da epigalocatequina por diferentes países. Como indicado, as famílias estão ansiosas para ter "alguma coisa". É por isso que parece pertinente alertar sobre a aceitação sem crítica de um consumo que, desde o início, não sabemos quanto tempo teria que ser mantido. Nós apontamos alguns aspectos importantes:
1 - A eficácia da epigalocatequina, administrada isoladamente, tem sido considerada modesta ou nula e de curta duração.
2 - A eficácia da epigalocatequina, se administrada em associação com intensos programas de estimulação cognitiva, foi demonstrada em um único ensaio clínico realizado em adultos jovens. Não foi validado ou replicado por outros estudos de outros grupos de pesquisadores. Quando se trata de um novo medicamento, o correto é que o seu uso não seja oficialmente aprovado até que sejam conhecidos os resultados positivos de vários ensaios.
3 - Esta eficácia foi demonstrada em apenas alguns aspectos cognitivos e comportamentais dos vários te**es neuropsicológicos realizados. Especialistas comentam que seus efeitos, quando aparecem, são moderados e variáveis em intensidade entre diferentes indivíduos.
4 - Destaca-se o fato de que, no único estudo realizado, a eficácia do produto só é visível quando acompanhada de treinamento cognitivo. Você poderia dizer, e isso é um fato a se ter em mente, que a epigalocatequina atua aumentando ou facilitando a estimulação que tem que alcançar os circuitos neuronais por rotas mais naturais. Isso significa duas coisas:
* a epigalocatequina não substitui o trabalho intenso e constante que deve ser feito na formação e apoio de pessoas com síndrome de Down;
* como o texto acima conclui, é possível que a solução esteja em associar diferentes formas de tratamentos (mais de um medicamento).
5 - Não sabemos se a epilagocatequina atua nos comportamentos desadaptativos que às vezes aparecem em pessoas com síndrome de Down. Poderia tanto melhorá-los quanto piorá-los.
6 - Não sabemos o tempo durante o qual o produto deve ser administrado para manter sua eficácia, e quando esta eficácia aparece. Não sabemos se cria tolerância, isto é, se o seu efeito diminui com o uso, o que exigiria aumentar a dose diária.
7 - Não sabemos se será útil na idade mais jovem ou mais adulta. Em qualquer caso, para se administrar em lactentes e crianças são necessários estudos farmacocinéticos (estudos que avaliam a medicação no organismo dos bebês e crianças pequenas) bem executados para definir a dose a ser administrada, determinar os níveis plasmáticos realmente úteis e assegurar a ausência de reações adversas.
8 - É indicado que famílias e profissionais leiam atentamente o estudo que apresentamos e façam as reflexões que nele são feitas, antes de tomar uma decisão. Em qualquer caso, se você decidir administrar o produto, lembramos as perguntas sensatas e realistas que devem ser feitas para avaliar os resultados:
Nosso filho agora está mais atento e sua atenção se estende por mais tempo?
Ele entende e interpreta melhor o que dizemos?
Melhorou sua fala, de acordo com o esperado para sua idade, na inteligibilidade, sintaxe, vocabulário, sentença?
Colabora mais e melhor em casa de acordo com as responsabilidades que depositamos nele?
Ele se lembra mais dos eventos, das responsabilidades, do que vê e ouve?
Mostra mais interesse no que dizemos ou no seu dever de casa?
Aceita melhor as orientações e segue as observações feitas?
Planeja melhor suas tarefas e atividades?
É necessário, então, que antes de dar qualquer medicação, tenhamos parâmetros muito claros que temos que avaliar em termos reais e concretos, sabendo que essa "melhoria da cognição e da função executiva" que nos é anunciada, deve ser traduzida em dados reais (do dia a dia e com impacto na qualidade de vida), da vida cotidiana do indivíduo: da pessoa em particular.
Pois a questão que realmente interessa seria:
"Você se sente realmente mais confortável consigo mesmo e com os outros agora?"
O aparecimento da epigalocatequina, com todas as suas possíveis limitações, é um marco na investigação moderna da terapia farmacológica na síndrome de Down. Mas é essencial, em todo caso, que não abandonemos as diretrizes e a metodologia de uma atividade educativa e investigativa correta."
El Galato De Epigalocatequina: Un Análisis Crítico