Sociedade Portuguesa de Psicanálise

Sociedade Portuguesa de Psicanálise A Sociedade Portuguesa de Psicanálise é uma associação cientifica que tem por missão a investigação, a divulgação, a promoção da prática da psicanálise.

Motor[II]Hugo Miguel Santos [Escritor]“Lembro-me de estar sentado na soleira da casa dos meus avós a decorar matrículas,...
27/11/2025

Motor[II]
Hugo Miguel Santos
[Escritor]

“Lembro-me de estar sentado na soleira da casa dos meus avós a decorar matrículas, marcas de automóveis, mas sobretudo pequenos ruídos: a voz de uma lixeira, a batida seca de uma bola de basquetebol, o pisotear apressado da farmacêutica atrasada depois de um almoço secreto com o vizinho do terceiro esquerdo, a estridência dos meus dentes de leite enquanto comia camarões, os ásperos soluços das persianas enferrujadas pela manhã ou antes de ir dormir e, no centro de tudo isto, o motor do carro da minha mãe.”

Fotografia: Jorge Rolão Aguiar.

No blogue da Sociedade Portuguesa de Psicanálise, “Manter a Peste”.

Texto completo: https://sppsicanalise.pt/motor-ii/

LÁ FORA CÁ DENTRO“Se eu quisesse, enlouquecia. Sei uma quantidade de histórias terríveis. Vi muita coisa, contaram-me ca...
23/11/2025

LÁ FORA CÁ DENTRO

“Se eu quisesse, enlouquecia. Sei uma quantidade de histórias terríveis. Vi muita coisa, contaram-me casos extraordinários, eu próprio… Enfim, às vezes já não consigo arrumar tudo isso. Porque, sabe?, acorda-se às quatro da manhã num quarto vazio, acende-se um cigarro… Está a ver? A pequena luz do fósforo levanta de repente a massa das sombras, a camisa caída sobre a cadeira ganha um volume impossível, a nossa vida… compreende?… a nossa vida, a vida inteira, está ali como… como um acontecimento excessivo… Tem de se arrumar muito depressa. Há felizmente o estilo. Não calcula o que seja? Vejamos: o estilo é o modo subtil de transferir a confusão e a violência da vida para um plano mental de uma unidade de significação. Faço-me entender? Não? Bem, não aguentamos a desordem estuporada da vida. E então pegamos nela, reduzimo-la a dois ou três tópicos que se equacionam. Depois, por meio de uma operação intelectual, dizemos que esses tópicos se encontram no tópico comum, suponhamos , do Amor ou da Morte. Percebe? Uma dessas abstracções que servem para tudo. O cigarro consome-se, não é?, a calma volta. Mas pode imaginar o que seja isto todas as noites, durante semanas ou meses ou anos?
Uma vez fui a um médico.
– Doutor, estou louco - disse. - devo estar louco.
– Tem loucos na família? - perguntou o médico.
– Alcoólicos, sifilíticos?
– Sim, senhor. O pior. Loucos, alcoólicos, sifilíticos, místicos, prostitutas,homossexuais. Estarei louco?
O médico tinha sentido de humor, e receitou-me barbitúricos.
– Não preciso de remédios - disse eu. - Sei histórias tenebrosas, acerca da vida. De que me servem barbitúricos?”

Herberto Hélder, 1980, “Estilo”, Os Passos em Volta”, Assírio & Alvim.

Imagem: Herberto Helder, que faria hoje 95 anos, em fotografia publicada pelo Jornal Público de 23 de maio de 2025, num artigo de Hugo Pinto Santos sobre a primeira biografia do poeta, “Se eu quisesse, Enlouquecia”.

Convite à leitura! “RECENSÃO DE ‘PREGNANCY, ASSISTED REPRODUCTION, AND PSYCHOANALYSIS, Editora Routledge, Taylor and Fra...
22/11/2025

Convite à leitura! “RECENSÃO DE
‘PREGNANCY, ASSISTED
REPRODUCTION, AND PSYCHOANALYSIS, Editora Routledge, Taylor and Francis Group, Eds. Ana Teresa Vale e Renata Vives, 2025, artigo de Rita Gameiro no último número da RPP

Link na story de hoje

Vol 45 nº1 (2025)
Revista Portuguesa de Psicanálise 45(1) 133-137

https://rppsicanalise.org/index.php/rpp/article/view/256

Motor[II]Hugo Miguel Santos [Escritor]“Quando tudo começou, eu não devia ter mais de três ou quatro anos e cinco ou seis...
21/11/2025

Motor[II]
Hugo Miguel Santos
[Escritor]

“Quando tudo começou, eu não devia ter mais de três ou quatro anos e cinco ou seis dúvidas de algibeira — souvenirs dos dias que antecedem as primeiras palavras, e o derradeiro instinto que nos conduz à ínvia certeza de caminhar pé ante pé sem inquirir a calçada que percorremos.”

Fotografia: Jorge Rolão Aguiar.

No blogue da Sociedade Portuguesa de Psicanálise, “Manter a Peste”.

Texto completo: https://sppsicanalise.pt/motor-ii/

Convite à leitura! “O AGRESSOR E O DESMENTIDO: O OUTRO LADO DA TEORIA DO TRAUMA”Um artigo de Marcos de Moura Oliveira no...
18/11/2025

Convite à leitura! “O AGRESSOR E O DESMENTIDO: O OUTRO LADO DA TEORIA DO TRAUMA”

Um artigo de Marcos de Moura Oliveira no último número da RPP

Link na story de hoje

Este trabalho versa sobre a inquietação frente ao advento da teoria do desmentido apoiada na obra de Sándor Ferenczi. Percebe-se que, embora a dualidade agressor-desmentido seja constantemente apontada como causa das problemáticas estudadas pelas lentes ferenczianas, os atos de agredir e desmentir são apoiados por recursos psíquicos constitutivos. Deste modo, apresentamos uma construção acerca destes dois elementos, não apenas como a causa da traumatogênese, mas como parte do psiquismo, frente a uma consideração crítica que denuncia tanto pactos sociais que seletivamente autorizam alguns tipos de agressões, quanto do próprio comportamento cotidiano de agredir e desmentir. Por último, propõe-se uma ampliação ético-política da compreensão do termo desmentido.

Vol 45 nº1 (2025)
Revista Portuguesa de Psicanálise 45(1) 117-130



https://rppsicanalise.org/index.php/rpp/article/view/218

LÁ FORA CÁ DENTRO“É pela palavra que nos fazemos, que nos criamos, que nos salvamos. Não temos outra coisa. É que não te...
16/11/2025

LÁ FORA CÁ DENTRO

“É pela palavra que nos fazemos, que nos criamos, que nos salvamos. Não temos outra coisa. É que não temos outra coisa. Somos as palavras que usamos. A nossa vida é isso. Se eu digo: estou pensando, e me perguntar: "em quê?", a minha resposta só pode ser com palavras. Não posso tirar o pensamento da cabeça e pô-lo em cima da mesa: aqui está o que eu estava pensando.”

Anabela Mota Ribeiro, “Entrevista em 2008: "É como se houvesse dentro de mim uma parte intocada. Ali não entra nada", Jornal Público, 18 de Junho de 2010.

Imagem: José Saramago, que nasceu neste dia em 1922, fotografado por Marcelo Buainain em 1996.

Motor[I]Csongor Juhos [Psicanalista]“A alma da locomotiva do Keaton, um colossal, selvagem e fumegante motor a v***r, é ...
13/11/2025

Motor[I]
Csongor Juhos
[Psicanalista]

“A alma da locomotiva do Keaton, um colossal, selvagem e fumegante motor a v***r, é o caos puro encarnado que avança sem qualquer respeito pela ordem, segurança ou bom senso. Tem um único objectivo: libertar-se de uma tensão que o pode fazer rebentar a qualquer momento. A estrutura grita como se fosse metal a ser arrancado dos ossos da terra, cospe fogo pelos pulmões de ferro e avança com a fúria de uma fera destravada. Não é uma máquina de transporte; é uma força desenfreada com uma potência ingovernável.”

Imagem: Motor motor Animæ – Fonte desconhecida.

No blogue da Sociedade Portuguesa de Psicanálise, “Manter a Peste”.

Texto completo: https://sppsicanalise.pt/motor-i/

LÁ FORA CÁ DENTRO«Eu própria tentei fugir», canta Mitchell em Coyote, «fugir e lutar com o meu ego». O tiro de partida d...
09/11/2025

LÁ FORA CÁ DENTRO

«Eu própria tentei fugir», canta Mitchell em Coyote, «fugir e lutar com o meu ego». O tiro de partida de Hejira identifica as suas viagens como simultaneamente geográficas e psicológicas. Ela percorre tanto a sua própria mente como qualquer outro lugar, mas as suas letras revelam indícios de uma nova forma de pensar. O académico David Shumway identificou o divã freudiano como a fonte. «A ambivalência é uma característica dos estados neuróticos, mas é também um produto do trabalho da análise», escreveu ele no seu livro Rock Star. «A obra de Mitchell depende fortemente do discurso, senão da psicanálise propriamente dita, pelo menos da terapia da “cura pela palavra”, num sentido mais geral.»
Trazer a psicanálise para a conversa explica muita coisa — não apenas as obsessões de Mitchell nos anos 1970, mas também a estrutura em espiral e transbordante das suas canções à medida que a década avançava. Não me surpreendeu descobrir que as próprias experiências de Mitchell com a terapia foram, no melhor dos casos, ambíguas. Em 1973, desolada após um breve e conturbado romance com Jackson Browne, começou a consultar o Dr. Martin Grotjahn, por recomendação de Warren Beatty. Mitchell mergulhou de cabeça, mas depressa concluiu que poderia fazer o trabalho melhor sozinha. Pouco depois, começaram a surgir referências à análise nas suas composições: Court and Spark inclui tanto o retrato assombroso de uma paciente instável, Trouble Child, como a réplica do analisando, Twisted. A partir daí, a terminologia da terapia passou a aparecer repetidas vezes nas suas letras.”

Ann Powers, 2024, “I had a lot of questions about myself’: Joni Mitchell’s psychological 70s quest and the ‘Me’ decade - An extract from new book Travelling follows the Canadian songwriter’s restless adventures in psychoanalysis and psychedelia from Hejira to Don Juan’s Reckless Daughter”, The Guardian, June 18.

Imagem: Joni Mitchell que celebrou 82 anos no dia 7 de novembro, “I am returning to myself / These things that you and I suppressed.”, fotografada por Jeff Goode/Toronto Star/Getty Imagem, todos os direitos reservados.

Convite à leitura! “EXPERIÊNCIAS DO CORPO EM PESSOAS TRANS”Um artigo de Daniel Matias no último número da RPPO fenómeno ...
08/11/2025

Convite à leitura! “EXPERIÊNCIAS DO CORPO EM PESSOAS TRANS”

Um artigo de Daniel Matias no último número da RPP

O fenómeno trans configura-se na atualidade como representativo de toda uma série de tensões, articuladas no plano social, político e cultural, assim como na forma como a clínica perspetiva tais formulações. Central a este discurso, o corpo surge como dimensão importante, considerando-se as suas transformações como representativas de um grau maior de liberdade pessoal. O presente estudo tem como problema de investigação a vivência do corpo de pessoas trans. Empregando os termos propostos por Lemma (2022), procuramos compreender a experiência providenciada pelos participantes do estudo relativamente ao «corpo dado» e ao «corpo certo»/corpo ideal. Metodologicamente, optou-se por uma pesquisa de cariz qualitativo, sendo empregado o método biográfico-narrativo-interpretativo. Em termos dos resultados obtidos, verificou-se que o período da puberdade revela ser de particular importância na transição entre o corpo dado e o corpo ideal, assistindo-se a uma diversidade de posicionamentos em relação a tal formação. O processo de transição é alvo de profunda reflexão, sendo que o ato cirúrgico aparece como opção, não enquanto necessidade óbvia. Em termos de conclusão do estudo, aponta-se para a implicação ética da teoria e prática psicanalítica na relação com este fenómeno.

Vol 45 nº1 (2025)
Revista Portuguesa de Psicanálise 45(1) 89-114



https://rppsicanalise.org/index.php/rpp/article/view/242

Motor[I]Csongor Juhos [Psicanalista]“As vicissitudes da força selvagem do motor da alma – da pulsão, uma espécie de comb...
06/11/2025

Motor[I]
Csongor Juhos
[Psicanalista]

“As vicissitudes da força selvagem do motor da alma – da pulsão, uma espécie de comboio ingovernável da psique à maneira de Keaton – estão no centro da teoria estrutural de Freud. Nesta segunda teoria do funcionamento mental, o modelo paradigmático deixa de ser o sonho com os seus processos e conteúdos representacionais e o foco passa a concentrar-se na natureza e no funcionamento das pulsões.”

Imagem: Motor motor Animæ – Fonte desconhecida.

No blogue da Sociedade Portuguesa de Psicanálise, “Manter a Peste”.

Texto completo: https://sppsicanalise.pt/motor-i/

LÁ FORA CÁ DENTRO“Do not go gentle into that good night,�Old age should burn and rave at close of day;�Rage, rage agains...
02/11/2025

LÁ FORA CÁ DENTRO

“Do not go gentle into that good night,�Old age should burn and rave at close of day;�Rage, rage against the dying of the light.�Though wise men at their end know dark is right,�Because their words had forked no lightning they�Do not go gentle into that good night.�Good men, the last wave by, crying how bright�Their frail deeds might have danced in a green bay,�Rage, rage against the dying of the light.�Wild men who caught and sang the sun in flight,�And learn, too late, they grieved it on its way,�Do not go gentle into that good night.�Grave men, near death, who see with blinding sight�Blind eyes could blaze like meteors and be gay,�Rage, rage against the dying of the light.�And you, my father, there on the sad height,�Curse, bless, me now with your fierce tears, I pray.�Do not go gentle into that good night.�Rage, rage against the dying of the light.”

“Thomas descreve a sua técnica numa carta:�“Faço uma imagem — embora fazer não seja a palavra certa; deixo, talvez, que uma imagem seja feita emocionalmente em mim, e então aplico-lhe as forças intelectuais e críticas de que disponho — deixo que dela nasça outra, deixo que essa segunda imagem contradiga a primeira, faço, da terceira imagem gerada das duas anteriores, uma quarta imagem contraditória, e permito que todas elas, dentro dos limites formais que imponho, entrem em conflito.”

Dylan Thomas, 1938, 1939, 1943, 1946, 1971 “The Poems of Dylan Thomas”, New Directions Publishing Corp.

Athtra Ketab, 2016, “The Symbolic Use of Language in Dylan Thomas’Poetry”, European Academic Research, 4.

Imagem: Dylan Thomas cerca de 1940, The Marginalian, todos os direitos reservados.

Incógnita [II]Rui Pina Coelho[Docente e Investigador. Dramaturgo]"O céu dentro da palma da minha mão fechada."Fotografia...
31/10/2025

Incógnita [II]
Rui Pina Coelho
[Docente e Investigador. Dramaturgo]

"O céu dentro da palma da minha mão fechada."

Fotografia: João Santana Lopes

No blogue da Sociedade Portuguesa de Psicanálise, “Manter a Peste”.

Texto completo: https://sppsicanalise.pt/incognita-ii/

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Avenida Álvaro Pais, 15
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