09/11/2025
LÁ FORA CÁ DENTRO
«Eu própria tentei fugir», canta Mitchell em Coyote, «fugir e lutar com o meu ego». O tiro de partida de Hejira identifica as suas viagens como simultaneamente geográficas e psicológicas. Ela percorre tanto a sua própria mente como qualquer outro lugar, mas as suas letras revelam indícios de uma nova forma de pensar. O académico David Shumway identificou o divã freudiano como a fonte. «A ambivalência é uma característica dos estados neuróticos, mas é também um produto do trabalho da análise», escreveu ele no seu livro Rock Star. «A obra de Mitchell depende fortemente do discurso, senão da psicanálise propriamente dita, pelo menos da terapia da “cura pela palavra”, num sentido mais geral.»
Trazer a psicanálise para a conversa explica muita coisa — não apenas as obsessões de Mitchell nos anos 1970, mas também a estrutura em espiral e transbordante das suas canções à medida que a década avançava. Não me surpreendeu descobrir que as próprias experiências de Mitchell com a terapia foram, no melhor dos casos, ambíguas. Em 1973, desolada após um breve e conturbado romance com Jackson Browne, começou a consultar o Dr. Martin Grotjahn, por recomendação de Warren Beatty. Mitchell mergulhou de cabeça, mas depressa concluiu que poderia fazer o trabalho melhor sozinha. Pouco depois, começaram a surgir referências à análise nas suas composições: Court and Spark inclui tanto o retrato assombroso de uma paciente instável, Trouble Child, como a réplica do analisando, Twisted. A partir daí, a terminologia da terapia passou a aparecer repetidas vezes nas suas letras.”
Ann Powers, 2024, “I had a lot of questions about myself’: Joni Mitchell’s psychological 70s quest and the ‘Me’ decade - An extract from new book Travelling follows the Canadian songwriter’s restless adventures in psychoanalysis and psychedelia from Hejira to Don Juan’s Reckless Daughter”, The Guardian, June 18.
Imagem: Joni Mitchell que celebrou 82 anos no dia 7 de novembro, “I am returning to myself / These things that you and I suppressed.”, fotografada por Jeff Goode/Toronto Star/Getty Imagem, todos os direitos reservados.