28/03/2020
3. O ensino vai ser muito mais digital? Depois de semanas, talvez meses, a estudar em casa em frente a um computador, a um tablet ou telemóvel, os alunos voltarão a sentar-se na sala de aula de manual, caderno e caneta à frente, ouvindo o professor a dar a matéria? E os docentes que experimentaram novas ferramentas de partilha, atribuição de trabalhos, muitos deles diferentes do tipo de exercícios que estavam habituados a pedir, ficarão rendidos às possibilidades oferecidas pelas novas tecnologias? “Quem se habitua a trabalhar com determinadas ferramentas, dificilmente volta atrás”, assegura Vítor Bastos, um professor de Geografia que, após o fecho das escolas, decidiu criar no Facebook uma plataforma de apoio em e-learning. Estava à espera de 100 ou 200 registos, em poucos dias juntaram-se 20 mil professores. “Esta crise vai alterar o paradigma do ensino. Logo à partida, vai recuar aquela corrente que estava a ganhar adeptos no sentido de afastar os telemóveis da escola. As pessoas percebem que têm nesse e noutros dispositivos uma ferramenta que pode auxiliar a aprendizagem e ser até um fator de motivação para alguns alunos”. Em tempo algum o ensino à distância substituirá a ida à escola. Mas as suas estratégias e tecnologias vão entrar cada vez mais na sala de aula. I.L.
4. Haverá uma maior valorização da ciência? Mais do que nunca, esta pandemia tornou evidente a importância de ouvir os peritos, havendo um “retomar da confiança” nos especialistas e na evidência científica. “Os movimentos antivacinas ou em prol de terapias alternativas saem muito prejudicados disto. Em tempos de crise, as pessoas voltam-se para os especialistas, para a ciência, que oferece mais garantias que outros sistemas de conhecimento”, afirma Ana Delicado, socióloga do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa. “Se calhar, há três meses, poucas pessoas saberiam o que é um epidemiologista ou virologista”, diz. Agora, estes especia-listas tornaram-se figuras centrais. A imagem das profissões ligadas à ciência e à saúde até é bastante positiva em Portugal, mas deverá sair “reforçada” desta crise. Contudo, defende a socióloga, não deverá haver um aumento da procura de formação nestas áreas, como aconteceu com as ciências forenses devido ao sucesso de séries televisivas de investigação criminal. “Bastantes alunos formados em medicina já enveredam por carreiras de investigação. E se há área científica que tem instituições de topo em Portugal é a das ciências da vida e da saúde.” R.A. in Expresso dia 28 de março