31/08/2025
📖 Série: Nos Bastidores da Medicina Interna
🔎 Porque gosto de ser Internista
Grande parte do entusiasmo da Medicina Interna vem do facto de o meu trabalho nunca ser repetitivo. Cada doente traz um novo desafio, que me obriga a estar sempre atento, a estudar, a ligar os pontos até chegar à solução correcta. Não há duas pessoas iguais — e por isso não há dois casos iguais. É isso que alimenta a minha curiosidade e a minha paixão pela Medicina.
Esta semana avaliei um doente com cálcio elevado no sangue (hipercalcemia). O excesso de cálcio pode afectar os rins, os músculos e até o coração. As causas mais comuns — suplementos ou alterações hormonais — estavam já excluídas. Passo a passo, a investigação revelou algo mais raro: sarcoidose.
📌 O que é a sarcoidose?
A sarcoidose é uma doença inflamatória em que o sistema imunitário forma pequenos “nódulos” chamados granulomas. Estes podem surgir em vários órgãos:
• Pulmões e gânglios linfáticos (na maioria dos doentes)
• Pele e olhos
• Coração e sistema nervoso
• Fígado, baço, rins, ossos e articulações
Em cerca de 10% dos casos, a sarcoidose causa aumento do cálcio. No caso deste doente, a doença imitava um cancro, com muitos gânglios aumentados. Uma biópsia permitiu chegar ao diagnóstico.
✨ O papel do Internista
A sarcoidose é frequentemente incluída no grupo das “grandes imitadoras” (the great masqueraders, em Inglês), porque pode assemelhar-se a muitas outras doenças. É aqui que a Medicina Interna, feita com tempo e dedicação, acrescenta valor:
• **Diagnóstico**: procurando, analisando e integrando pistas de todo o organismo, focando-se no doente e não apenas no órgão.
• **Tratamento**: ponderando as melhores opções nos casos mais raros e conciliando os cuidados através de várias especialidades.
• **Seguimento**: como a sarcoidose pode regressar ou afectar novos órgãos anos depois, o acompanhamento sistemático é essencial — não só para vigiar a doença, mas também para gerir, em conjunto, outras condições (cardiovasculares, respiratórias, musculoesqueléticas) que frequentemente surgem.
💡 A boa notícia?
A maioria dos doentes com sarcoidose responde bem à terapêutica e pode viver uma vida normal. Com seguimento adequado, antecipamos complicações e evitamos atrasos.
Para mim, casos como este são a essência da Medicina Interna: assumir os desafios mais complexos e multissistémicos, garantindo diagnósticos mais rápidos, tratamentos mais seguros e cuidados coordenados.
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̧asautoimunes