23/01/2025
Hoje despeço-me com profunda tristeza. Como psicóloga, acompanho vidas e histórias, muitas das quais deixam marcas para sempre. Mas hoje escrevo como pessoa, porque partiu a minha doce paciente M., uma jovem para quem a vida nunca foi fácil.
Por detrás do sorriso doce, estava uma menina profundamente só, no sentido mais amplo da palavra. Caminhava sozinha, e muitos dos que se aproximavam tinham apenas a intenção de receber algo. Ela, porém, só queria ser vista, ser amada, sentir que alguém estava verdadeiramente com ela. Mas sentia-se abandonada – pelos seus, pela vida. Nada do que fazia parecia dar certo, e, com a saúde tão frágil, foi-se entregando e desistindo. "Lutar para quê, porquê? Estou aqui só para sofrer.", dizia tantas vezes.
Caminhei com ela, quis mostrar-lhe que devia ter esperança, que havia algo mais... Mas a pergunta insistente dela ecoa: "Esperar o quê, em quem?" Aos poucos, entregou-se a uma dor interna tão intensa que acabou por atingir o corpo. Foi desistindo. E, por fim, deixou-se ir.
Hoje, choro a sua partida. Choro por a vida não ter sido mais generosa com ela, por ela não ter tido momentos mais felizes, mais risadas, mais amor. Por não se ter sentido verdadeiramente amada. M., nunca te esquecerei. Hoje, acredito que encontrarás a paz e a luz que sempre mereceste.
A quem me lê, deixo um pedido: olhem mais à vossa volta. Sejam mais generosos, mais humanos, mais atentos. Um gesto simples pode fazer a diferença na vida de alguém que vos rodeia.
Obrigada, M., por me teres permitido caminhar ao teu lado.
Descansa em paz. 🌹