31/10/2025
🎃 Nem toda fantasia é inocente. E nem toda escuridão é maldição.
Aqui na Irlanda, o fim de outubro é diferente.
O Halloween não é só festa.
É herança.
Antes das fantasias, dos doces e dos filmes, havia o Samhain (pronuncia-se Sôuin) o festival celta que marcava o fim da colheita e o começo do inverno.
Um tempo em que os celtas reconheciam a escuridão como parte do ciclo da vida.
E onde se acreditava que o véu entre os mundos ficava mais fino.
Não era “satanismo”.
Era leitura do tempo por um povo que enfrentava o frio, a fome e a morte com o que tinha: rituais, símbolos, medo e tentativa de conexão.
Mais tarde, a Igreja Católica tentou sobrepor essa tradição com o Dia de Todos os Santos, em 1º de novembro.
Um sincretismo estratégico para cristianizar o que não podia mais conter.
E então, no mesmo 31 de outubro séculos depois, Lutero cravou suas 95 teses e acendeu a Reforma.
A data que foi usada para encobrir virou data de revelação.
A passagem do medo para a fé.
Da superstição para a Escritura.
Hoje, como cristã, vivendo em uma terra cheia de histórias, eu não celebro o Halloween.
Mas também não preciso demonizar uma cultura inteira. A estação escura e fria reabre cicatrizes culturais em quem carrega a dor da escassez.
Reconheço a dor do povo.
Entendo a pausa do tempo.
E separo o símbolo da prática.
Porque nem tudo que é antigo é santo.
E nem tudo que é moderno é inocente.
O Halloween de hoje mistura entretenimento, esoterismo, nostalgia e esvaziamento espiritual.
O de antes, carregava uma dor de sobrevivência.
O de agora repete sem consciência.
E nós? Estamos discernindo tudo isso?
Ou só repetindo de maneira inconsciente?
Paulo, em Atos 17, não destrói os símbolos dos gregos.
Ele os ressignifica à luz de Cristo.
E talvez seja isso que o Senhor nos chama a fazer:
discernir o tempo, resgatar o que é puro, redimir o que ainda pode ser usado para revelar.
Que nessa travessia entre luz e trevas,
a Palavra seja nossa bússola.
E que a gente saiba dizer sim à pausa…
sem dizer amém à escuridão.