22/10/2025
Reparem na quantidade de indivíduos com o apelido/sobrenome "da Ponte".
Neste dia 22 de Outubro, o naufrágio de quatro barcos de pesca
Na madrugada de 20 de Outubro de 1847, quatro barcos de pesca de Vila Franca do Campo, com um total de 28 homens a bordo, partiram para uma faina de pesca ao largo da ilha de Santa Maria.
A travessia de regresso prometia ser rotineira - mas o Atlântico, tantas vezes imprevisível, rapidamente lhes trocou as voltas. Subitamente, formou-se uma violenta tempestade, que empurrou as pequenas embarcações para longe da sua rota. Sem coberta, à mercê do vento e das vagas, os pescadores foram obrigados a resistir como puderam às forças da natureza.
Famintos, exaustos e desorientados, os tripulantes lutaram contra o mar durante dois dias, sem meios de comunicação nem qualquer expectativa de resgate. A esperança de escaparem vivos tornou-se remota.
A salvação surgiu miraculosamente, sob a forma da barca americana “Alto”, comandada pelo capitão E. H. Lackman, que navegava naquelas águas em campanha de pesca à baleia. Ao avistar os barcos à deriva, o capitão Lackman ordenou uma operação imediata de socorro. As quatro tripulações foram recolhidas uma a uma, no limite das forças e em risco iminente de morte.
A 22 de Outubro de 1847, há precisamente 178 anos, pouco depois do resgate dos últimos homens, todos os quatro barcos - dois com o nome de “Bom Jesus”, mais o “Santo António” e o “Oliveira” - foram a pique.
No dia 23 de Outubro, a “Alto” chegou ao porto da Horta com os 28 náufragos salvos a bordo. A notícia correu rapidamente pelo Faial e suscitou uma imediata resposta humanitária. O governador civil interino, Francisco Garcia do Rosário, ordenou prontamente o acolhimento dos sobreviventes, garantindo-lhes alojamento e uma pensão diária de 120 réis para cada um.
Mas foi sobretudo a sociedade civil que mais se destacou: os comerciantes locais, entre os quais Francisco da Cruz da Silva Reis, José Inácio Pimentel, António Joaquim da Silva Reis Morgado, Manuel Francisco Goulart e Roberto Augusto de Mesquita Henriques, organizaram-se para acolher os homens. Cada um assumiu a responsabilidade por sustentar, vestir e calçar os cinco grupos de náufragos que estavam naquela altura na Horta, num gesto exemplar de solidariedade.
O comerciante Cruz da Silva Reis, não satisfeito com os auxílios prestados, pagou ainda do seu próprio bolso a viagem de regresso à ilha de São Miguel, fretando para isso a escuna “Açor”. A bordo seguiram, gratuitamente, os 28 homens resgatados pela “Alto” e mais sete outros pescadores provenientes de um barco da ilha de Santa Maria que, arrastado pela mesma tempestade, dera à costa na vila das Lajes do Pico no dia 25.
Por isso mesmo os jornais da época elencavam o nome de todos os resgatados de Vila Franca do Campo - no barco “Santo António”: Luiz da Ponte (mestre), Manuel da Ponte, José dos Santos, António Ferreira, dois Manuéis dos Santos, Miguel Pacheco e Nicolau José; no barco “Bom Jesus I”: Francisco da Ponte (mestre), Luiz da Ponte, Mariano José, Guilherme Jacinto, Francisco José, Manuel Jacinto e Manuel Bonifácio; no barco “Bom Jesus II”: Vicente José (mestre), João Pacheco, João Luiz, José da Costa, Mariano José e Francisco da Ponte; no barco “Oliveira”: Manuel Cabral (mestre), Luiz Cabral, José Ferreira, Manuel da Costa Santos, Manuel de Araújo; João Jacinto, Joaquim José e Manuel Jacinto.
Do barco mariense “Santa Catarina”, que dera à costa no Pico, vinham: António de Lemos (mestre), Manuel Manteiga, Francisco Manteiga, Frutuoso José, José dos Santos, André Capado e Manuel Pequeno.
No total, 35 vidas foram salvas da fúria do mar graças à coragem de um capitão estrangeiro e da comunidade picoense: um feito de humanidade e compaixão que, como sublinhava a imprensa da época, não podia ficar sepultado no esquecimento.