06/02/2021
As Castanhas-do-Pará são Radioativas
Quando se fala em radioatividade ambiental, a grande maioria das pessoas pensa nas radiações ionizantes oriundas de usinas nucleares, de isótopos utilizados na pesquisa, na medicina e na indústria, como também nos resíduos de te**es nucleares.
Na verdade a maior parte da dose radioativa recebida por uma habitante de uma nação industrializada (cerca de 2,4 mSv/ano) é de origem natural.
Uma primeira fração dessa dose deriva da radiação cósmica (o sol e a nossa galáxia); uma segunda vem da radiação terrestre, ou seja dos raios gama emitidos pelas rochas, pelo solo e por tudo que a indústria produziu a partir dessas matérias primas: tijolos, telhas, revestimentos de gesso, cerâmica, etc.
Uma terceira fonte vem da água consumida na nossa alimentação; uma quarta é gerada pelo gás radônio presente, em concentrações muito variadas, na atmosfera, particularmente dentro de ambientes pouco ventilados.
A quinta fonte se encontra nos alimentos consumidos cotidianamente sendo, no entanto, relativamente baixa quando comparada com as outras fontes. Isso se deve ao fato que os alimentos contêm quantidades modestas de radionuclídeos naturais.
No entanto existe uma planta que, por motivos ligados a seu metabolismo, possui a capacidade de absorver rádio do solo e concentrá-lo em seus frutos. Trata-se da famosa Castanha do Pará.
Mediamente, a castanha apresenta uma concentração de Rádio-226 de 41 Bq/kg, mais 25 Bq/kg de Rádio-228.
Esses valores foram obtidos no nosso laboratório e correspondem aqueles relatados na literatura científica internacional.
Os nutricionistas e os médicos, que justamente recomendam o consumo desse fruto devido ele ser rico em ácidos graxos Omega-3, desconhecem o perigo potencial ligado ao seu alto conteúdo de rádio.
Enquanto o consumo for limitado a, digamos, duas castanhas por dia (=10 g) a dose resultante será mínima. Mas no caso em que sejam ingeridas vinte castanhas diariamente, simples cálculos dosimétricos levam ao resultado seguinte:
Dose = 1 mSv/ano.
Ou seja uma dose que sozinha representaria quase a metade da dose total gerada por todas as outras fontes juntas.
Sem contar que, sendo o rádio um elemento quimicamente semelhante ao cálcio, terá a tendência a se fixar nos ossos podendo, durante os anos seguintes, desencadear um sarcoma ósseo, de difícil tratamento.
Em conclusão: sim às castanhas do Pará, mas sem exagerar. Duas ou três por dia são suficientes e saudáveis. Aumentar a dose não irá trazer mais benefícios e será um perigo pela saúde de quem as consome.
BIBLIOGRAFIA
Penna Franca et al. Health Phys., 14, 95 (1968)
ICRP, Doses to Members of the Public from Intake of Radionuclides. International Commission on Radiological Protection, Pergamon Press, Oxford (1993)