11/11/2025
Há dores que não chegam com cortejo nem flores. Silenciosas, caminham ao nosso lado enquanto a vida aparenta normalidade. Chamamos de lutos invisíveis: despedidas sem anúncio, partidas sem endereço, versões de nós que se foram sem adeus. São perdas que não cabem em velórios, mas pedem respeito. Quando não reconhecidas, pesam no corpo, apagam cores e cansam a esperança.
Há quem chore uma gravidez que ninguém soube. O calendário marca dias comuns, porém o coração registra a ausência de um futuro sonhado. Outros se despedem de casas, cidades, países, e deixam ali cheiros, rotas, vizinhos e a língua que embalava os pensamentos. É um adeus de caixas e documentos, mas também de raízes invisíveis que insistem em chamar de volta.
Um diagnóstico muda o horizonte em uma frase. Começa outro tempo, feito de exames, prazos, remédios e coragem cotidiana. Nem sempre há espaço para lamentar, e o medo aprende a falar baixinho para que a vida continue. Há ainda a perda de um animal de estimação, pequena alma que habitou a casa como família. Para muitos, é a primeira experiência concreta de morte, e o silêncio que f**a tem o tamanho do amor vivido.
Outro luto discreto é a versão que já não existe. A juventude guardada numa fotografia, a profissão que perdeu sentido, a crença que amadureceu. Crescer é trocar de pele, e toda troca pede deixar algo para trás. Há também o afastamento de quem continua vivo, por proteção ou por caminhos que se bifurcam. Dói como luto, mesmo que a pessoa esteja do outro lado da cidade. É uma ausência presente que exige elaboração.
Na perspectiva espiritual, nenhuma dor é inútil. A vida não castiga. Educa. O que não pode ser curado por fora pode ser cuidado por dentro. Reconhecer o luto permite que a alma respire. Nomear a perda, contar a história, pedir ajuda, criar um rito de passagem. Uma vela acesa, uma oração, uma carta nunca enviada, uma caminhada que marca recomeços. Esses gestos tecem sentido e abrem lugar para a esperança persistir.
Que cada luto, visível ou discreto, encontre reconhecimento manso. Que haja espaço para nomear ausências, criar rituais simples, compartilhar memórias e permitir que o tempo faça o que o tempo sabe fazer.