21/05/2017
Partindo da referência bíblica como parâmetro de pontuação do tema, pode-se encontrar o seguinte trecho:
“Passado algum tempo, ofereceu Caim frutos da terra em oblação ao Senhor. Abel, de seu lado, ofereceu dois primogênitos do seu rebanho e das gorduras dele; e o Senhor olhou como agrado para Abel e para sua oblação, mas não olhou para Caim nem para os seus dons. Caim ficou extremamente irritado com isso, e o seu semblante tornou-se abatido. O Senhor disse-lhe:” Porque estais irado?” E por que está abatido o teu semblante? Se praticares o bem, sem dúvida alguma poderás reabilitar-te. Mas se procederes mal, o pecado estará à tua porta, espreitando-te; mas tu deverás domina-lo”. Caim disse então a Abel, seu irmão: “Vamos ao campo”. Logo que chegaram ao campo, Caim atirou-se sobre seu irmão e matou-o”. ( Gênese, Cap. 4-3 à 8).
Uma das primeiras histórias relatadas na Bíblia é talvez uma das mais trágicas e repugnantes: o assassinato sangrento de Abel cometido por seu irmão Caim. Motivo? Ciúme. Originado da inveja que tomou conta de Caim ao perceber tamanha admiração do Senhor para com as atitudes de seu irmão Abel.
A primeira manifestação do ciúme, na vida do indivíduo, segundo uma visão psicanalítica, ocorre por ocasião da formação do complexo de Édipo, onde a criança, que até então mantinha uma identificação primária com seu objeto cuidador, passa a perceber-se num mundo completamente dissociada desse objeto. Nessa perspectiva, a presença de outro indivíduo começa a ser percebida como uma ameaça a esse relacionamento. Nesse momento específico, a criança rivaliza com o objeto do mesmo s**o a posse do objeto do s**o oposto. Porém, no caso da relação entre irmãos, o ciúme pode tornar-se mais intenso, uma vez que se processa de modo diferente do Complexo de Édipo. No processo, o lugar que se deseja ocupar, como melhor filho, não estaria ocupado, à priori, por nenhum dos irmãos
O ciúme entre irmãos, considerado normal é esperado quanto à manifestação, e é um treino preparatório para a vida futura do indivíduo, uma vez que o prepara para a competitividade que o mundo moderno e capitalista estimula, nesse tipo de sociedade, ao ser no mundo. Acredita-se, assim, que o ciúme pode ser elaborado no indivíduo de duas maneiras: ou assemelhando-se ao processo de luto, onde a ameaça da perda do objeto desejado é de fato uma perda objetal (e, nesse sentido, o ciúme este pode ocorrer após a elaboração do luto, num processo de substituição de um objeto por outro); ou, essa perda pode estar associada a um processo de melancolia, onde o indivíduo que ainda concebe o objeto pautado em bases narcísicas, sente a ameaça a perda do objeto como uma perda relativa ao próprio Ego. Por isso, ao longo da vida, as separações, ou possibilidades de que elas venham a ocorrer, podem ser sempre vistas de forma traumática.
Milênios se passaram e esse sentimento entre irmãos continua corrente dentro da esfera familiar. Misto de rivalidade, inveja, ódio, inferioridade e orgulho, o ciúme entre irmãos, na maioria das vezes, possui uma conotação benigna nas primeiras fases do desenvolvimento da criança, porém, nos casos em que gera ansiedade pode torna-se cada vez mais intenso e como conseqüência, isto produz certos conflitos pessoais e sociais (Adrados, 1971).
