06/08/2022
A (o) analista insensível e o reforço do superego rígido.
É de se esperar que, em algum momento da análise, o paciente projete seu superego, pulsões e medos na figura representada pelo analista. Com grande esperança, ele entrega um material de extrema importância para o profissional ao qual depositou sua confiança, mesmo que isso implique passar por períodos persecutórios na relação intersubjetiva. Espera-se, que um profissional qualificado e, principalmente empático, maneje esse conteúdo, a fim de diminuir a tensão desnecessária ao qual o paciente, essencialmente os de caráter obsessivo, se sujeitam. Isso demanda uma presença emocional e humana do analista, incluindo interpretações que soem como suposições, possibilitando sempre o contraditório. Além disso, por mais que a interpretação pareça correta, o único conhecedor da própria verdade é, notoriamente, o paciente, uma vez que é típico ao analisando induzir o terapeuta ao erro, justamente para ter a oportunidade de questionar conteúdos de experiências antigas com as figuras de cuidado. Isso não quer dizer que o silêncio ou falta de gratificações não sejam importantes, já que a frustração é um importante elemento para o desenvolvimento do aparelho de pensar, como já dizia Bion. De qualquer forma, a postura de abstinência não deixa de ser uma importante premissa da psicanálise, mas, em minha opinião, jamais absoluta. Nada pode suplantar o bom senso e a empatia numa relação terapêutica. Como já dizia Jung: "conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana". Caso contrário, o material projetado pode ser reintrojetado e identificado, porém com um toque do sadismo do próprio profissional, que, em tese, estava ali para ajudar.