Alfeu Figueredo Do Prado. Psicólogo e Psicanalista

Alfeu Figueredo Do Prado.    Psicólogo e Psicanalista Psicólogo Clínico e Psicanalista.

03/12/2025

A Força Que Persiste em Te Definir

"O desejo do homem é o desejo do Outro."
— Jacques Lacan

Esta frase do psicanalista Jacques Lacan condensa a dinâmica de um poder externo e formativo que atua sobre nós.

Muitas vezes, sem perceber, nossa identidade e nosso caminho são configurados por imperativos invisíveis: a expectativa familiar, os rótulos sociais ("egoísta", "incapaz"), a culpa projetada e até regras imaginárias que internalizamos. Essas forças usam ferramentas concretas — o poder financeiro, a crítica sistemática, os laços de sangue — para nos encaixar em um molde pré-definido.

O mais crucial é entender que essa força é monumental e não recua. Ela persiste, atravessando fases da vida: segue conosco ao sair de casa, se reinventa em relacionamentos e pode nos condenar a dinâmicas de dependência ou rejeição. Confrontá-la é desencadear sua fúria: ela retaliará com culpa, provocação e uma tentativa sutil de destruição. Essa luta invisível é fonte de grande sofrimento, podendo levar à depressão pelo conformismo, à loucura por culpa ou a compulsões como compensação.

A saída, portanto, não é uma batalha para eliminá-la — algo muitas vezes impossível —, mas um processo de discernimento e fortalecimento. É internalizar um não definitivo: "Não aceito sua definição ao meu respeito! Não tente me definir para sua conveniência".

Confrontar isso se faz por um trabalho terapêutico de identif**ar esses "fantasmas" formativos, compreender seu mecanismo e, principalmente, aprender a coexistir com sua presença sem permitir que governem ou adoeçam a alma. A vitória está em deixar de ser uma marionete, sem ilusão de que o manipulador — muitas vezes alguém que se ama — algum dia deixará de puxar os fios.

Você já sentiu esta força formadora vindo de algum elemento persistente da sua vida? Você sucumbiu a ela ou reagiu?

02/12/2025

A passagem do tempo como Bússola

A reflexão de Ney Matogrosso encontra eco tanto na filosofia existencial quanto na psicologia do desenvolvimento. A consciência da morte, longe de ser algo mórbido, opera como uma “bússola existencial”. O filósofo Martin Heidegger via a finitude como o que confere urgência e autenticidade à vida: só ao aceitar que nosso tempo é limitado, podemos escolher viver de acordo com nossos valores mais profundos, e não por inércia ou pressão social.

Psicologicamente, a teoria da integridade do ego de Erik Erikson propõe que o estágio final da vida é marcado pelo conflito entre integridade e desespero. A integridade surge quando olhamos para trás e sentimos que nossa vida teve signif**ado e coerência; o desespero, do contrário, brota do arrependimento e da sensação de tempo desperdiçado. A fala de Ney — o desejo de não se arrepender — é a busca prática por essa integridade.

Assim, a vida se torna um projeto de autoria. O “arrependimento” que se teme não é por erros morais simplesmente, mas por uma traição a si mesmo: por não ter criado a “obra” que nos traduz. O oposto disso é viver de forma inautêntica, focando em críticas destrutivas ou prejudicando outros — comportamentos que muitas vezes mascaram uma fuga do próprio projeto existencial.

Portanto, a certeza da morte não paralisa; orienta. Ela nos convida a filtrar o essencial do supérfluo, a agir com coragem para construir uma narrativa de vida da qual possamos, no fim, nos orgulhar. É a ferramenta mais potente para forjar sentido ao invés de viver à deriva.

01/12/2025

A visão súbita do que se escondia atrás das nossas projeções.

Para Freud, o amor envolve sempre projeções. O sujeito coloca no parceiro traços que deseja, teme ou tenta reparar, muitas vezes repetindo modelos infantis de vínculo que marcaram sua história.

A dependência emocional reforça essas projeções. O outro se torna um objeto investido de funções que ultrapassam sua realidade: segurança, garantias, confirmação de valor, alívio da angústia. Não é o outro real quem é amado, mas uma construção psíquica sustentada pela necessidade.

Quando essa dependência começa a ruir, o ego recupera parte de sua autonomia e o processo de idealização perde força. O que aparece então é o outro em sua dimensão concreta, com limites, falhas e singularidade. Não é raro ver subitamente o monstro que estava disfarçado. É um momento em que o sujeito percebe que muito do que vivia como amor era mantido pelo medo de perder e não pela possibilidade de escolher.

Freud nos mostra que, quando a fantasia se desloca e o desejo deixa de ser agarrado à necessidade, abre-se espaço para um encontro mais verdadeiro com a realidade e consigo mesmo. É nesse ponto que o olhar muda: não porque o outro se transformou, mas porque a posição psíquica do sujeito deixou de depender dele.

(Texto e vídeo de Talitta Mizael página Freud_por_talitta)

29/11/2025

Amor é Sintonia, e Não Apenas um Sentimento Doce

Gabor Maté nos convida a repensar o amor. Não se trata apenas daquele sentimento caloroso e terno, seja por um filho, um parceiro ou um amigo. Esse sentimento, embora importante, é insuficiente. O que verdadeiramente importa não é o que sentimos, mas o que o outro recebe.

Muitas vezes, embora amemos profundamente, estamos tão marcados por nossos próprios traumas e estresses que não conseguimos enxergar o outro como ele realmente é. Nossas ansiedades, expectativas e reações emocionais filtram a relação, criando uma barreira invisível. O amor f**a retido em nós, sem conseguir chegar até o outro. Para ser verdadeiramente amado, é preciso ser visto.

Aqui reside a essência do amor como sintonia. Amar é conseguir se conectar com a experiência interna do outro. É compreender suas necessidades, suas angústias e suas alegrias, e saber responder a isso de forma adequada.

É neste ponto que contrastamos a sintonia com uma postura comum, porém oposta ao amor verdadeiro: a do parceiro ou pai que, disfarçado de cuidado, busca formatar, criticar ou direcionar a vida alheia. Este é um "amor" que, mesmo com aparência de fofura ou boa intenção, constrói uma cela para o outro viver. Ele não enxerga a pessoa real, mas sim um projeto a ser consertado. Isso não é sintonia; é controle, o antípoda da conexão autêntica.

Sob uma perspectiva terapêutica, a terapia atua exatamente nesses pontos de desconexão e controle. Ela oferece um espaço seguro para que o indivíduo identifique e trabalhe suas próprias feridas e o impulso de moldar os outros para se sentirem seguros. Ao se reconectar consigo mesmo, compreendendo suas dores e necessidades de controle, ele se liberta para ver o outro com mais clareza e aceitação. A terapia, portanto, é um processo de afinação interior. Ela limpa os ruídos do passado, permitindo que a sintonia – o verdadeiro amor, que acolhe em vez de formatar – possa, enfim, fluir e ser recebido.

28/11/2025

O valor em mostrar quem se é de verdade

A poesia de Maria Cecília Nachtergaele é um manifesto psicológico pela autenticidade. Ela descreve um perfil que é o antídoto para a cultura da positividade tóxica e do self-made man que se vende como produto inabalável. A persona poética não é fraca; é íntegra. Sua tristeza não é um defeito, mas a condição essencial para uma existência profunda e verdadeira.

O poema valoriza a espontaneidade (“sorrir à toa”, “falar muito abandonadamente”) e a integridade de quem não esconde seu sofrimento (“sempre querer chorar”). Este é o contraste radical com a postura prepotente e teatral daqueles que negam a vulnerabilidade. Enquanto o discurso do sucesso profissional exige uma fachada de invencibilidade e otimismo constante, a voz do poema reclama o direito de ser triste sem se envergonhar.

O manifesto colocado pela mãe do ator funciona como um arquétipo da verdade, opondo-se à performance social. A simplicidade e o “jeito de quem está querendo ser criança outra vez” representam uma busca pela essência, antes que a vida nos obrigasse a atuar o papel de “vencedores”.

A “maior urgência” de ser “imensamente triste” é, na verdade, uma urgência por humanidade. É a recusa a se tornar um produto bem-acabado e superficial. Nesta perspectiva, a tristeza não é um estado a ser curado, mas a prova de que se amou, se perdeu e, acima de tudo, se viveu de forma genuína. É a integridade de quem prefere a verdade difícil à felicidade fingida.

26/11/2025

A invencibilidade da despretensão

"Você não tem ideia do que está fazendo e, portanto, é invencível."
Série: O Urso, 2022 (Disney+)

Esta poderosa reflexão ocorre em O Urso durante um momento genuíno entre a jovem chef Sydney e o protagonista Carmy, um talento genial, porém atormentado. A fala de Carmy não é uma exaltação cega, mas um insight nascido do cansaço e da pressão, um reconhecimento tardio de que seu sofrimento vem justamente da ânsia por controle. Enquanto isso, Sydney personif**a o oposto: ela observa o caos do restaurante com curiosidade e uma leveza prática, acolhendo o processo independentemente do resultado.

Sob a ótica da psicanálise, a "invencibilidade" de Sydney não é onisciência ou blindagem, mas a potência que emana de um estado de despretensão. Quem não busca controlar rigidamente as consequências de seus atos opera fora do campo das regras internalizadas e do superego paralisante. Está, em um sentido autêntico, em contato com seu desejo e curiosidade de forma mais pura, sem a mediação excessiva do "deveria" ou do "isso não vai dar certo".

A neurose, frequentemente, nasce do medo de errar, de não corresponder a um ideal. Esse medo gera paralisia. A invencibilidade descrita é o oposto: é a coragem de agir a partir de um lugar de não-saber, onde o acaso e a espontaneidade prevalecem sobre o planejamento rígido. A frustração, nesse contexto, deixa de ser um fracasso catastrófico e se torna um dado do percurso, um sinalizador que ajusta a rota, mas não define o destino final.

É o estado em que o sujeito, liberto temporariamente da pressão de acertar, permite-se criar caminhos novos. A naturalidade no enfrentamento do desconhecido gera uma resiliência orgânica. A invencibilidade, portanto, é um efeito colateral benéfico de se estar plenamente presente e engajado no processo, e não aprisionado pelo resultado. É a potência do gesto espontâneo, que a psicanálise vê como a expressão mais genuína do self.

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