16/08/2025
A lucidez é uma dádiva cruel.
Ela te liberta das ilusões, mas te aprisiona numa clareza que poucos compartilham.
É como acordar num mundo de sonâmbulos: você vê os rostos adormecidos, os gestos automáticos, as palavras vazias repetidas como mantras hipnóticos e percebe que também estava ali até ontem.
O despertar não é iluminação. É um exílio.
Você tenta falar sobre o que viu, mas suas palavras soam estranhas para quem ainda habita o sonho coletivo.
Mencionam “energia”, “consciência”, “presença” como sepulcros caiados, transformando todas essa expressões em clichês espirituais, moedas gastas de um mercado que vende transcendência em doses palatáveis.
Mas o que você experimentou não cabe em workshops de fim de semana.
Foi um desmonte.
O “eu” que você acreditava ser se revelou uma ficção bem elaborada.
E agora?
Como viver sabendo que você é tanto tudo quanto nada?
Como se relacionar quando percebe que a maior parte das interações humanas são jogos de máscaras inconscientes?
O despertar mata o inocente em você.
Aquele que acreditava nas respostas fáceis, nos gurus salvadores, nas fórmulas de felicidade.
Aquele que buscava um Deus confortável, uma verdade que não doesse, um caminho que não exigisse a morte de quem você pensava ser.
A lucidez dói porque revela que sempre estivemos sozinhos, e que isso nunca foi um problema.
O outro que você busca encontrar, compreender, amar, ele também é você.
(…)
A separação sempre foi ilusória.
O despertar espiritual não é ascensão.
É descida.
Descida ao que sempre esteve aqui, antes das histórias, dos nomes, das buscas.
É retorno ao silêncio que você é quando nenhum pensamento te define.
E neste silêncio, a solidão se revela o que sempre foi:
plenitude disfarçada de carência, amor incondicional mascarado de abandono, presença infinita que o ego interpretou como separação.
(…)
A lucidez não te isola do mundo.
Ela te liberta da necessidade de que o mundo seja diferente do que é.
E nesta liberdade, paradoxalmente, você encontra todos, não como conceitos ou relacionamentos, mas como facetas da mesma consciência brincando de ser múltipla.
Por
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