26/11/2025
Não é nossa culpa, mas é nossa responsabilidade mudar isso
O “ser leve”, “ser agradável”, não é seu jeito. Não é um traço personalidade. É algo que foi ensinado e reforçado às mulheres, há tanto tempo, que parece natural, mas não é.
Enquanto meninos são criados para ocupar espaço, pedir, impor, reivindicar, errar, e se colocar sem medo, meninas são ensinadas e não “atrapalhar” e até mesmo a facilitar, o funcionamento do mundo masculino.
Desde cedo, aprendemos que devemos ser fáceis de lidar: nada de confronto, nada de tensão, nada que “dê trabalho”. Um homem irritado é “estressado”, uma mulher irritada é “difícil”, “exagerada”, “desequilibrada”.
Também aprendemos, quase sem perceber, a gerenciar o emocional de todo mundo. A ajustar nosso tom, evitar conflito, prever reações, suavizar o clima. Viramos responsáveis pelo bem-estar alheio, mesmo quando ninguém cuida do nosso.
O efeito psicológico disso é alto. A mulher internaliza a ideia de que não pode ser um “peso”. Então minimiza, ou ignora, tudo que poderia ser visto como tal: seus limites, suas necessidades, seus desejos, seus incômodos, suas frustrações, sua raiva, suas discordâncias.
A psicologia feminista chama isso de adaptação relacional compulsória: aprender a moldar sua expressão para manter vínculos e evitar riscos.
E aí o resultado aparece no cotidiano: a mulher vira gerente emocional da relação, evita conflito a qualquer custo, assume o bem-estar do outro, se edita para não perder afeto e vai apagando um pouco de si mesma para caber no que esperam dela.
E o mais cruel é que, quando ela faz tudo isso, o entorno interpreta como tranquilidade: “Ela é calma”, “Ela não precisa de ajuda”, “Ela aguenta”, “Ela sabe lidar” - a “leveza” vira apagamento.
Ser “leve”, “agradável”, não é uma virtude, é condicionamento - um condicionamento que custou, e ainda custa, caro demais.