08/10/2025
Faz tempo que não venho por aqui. Parece que nunca sobra tempo. Nem mesmo para o tão relevante e atual “marketing médico”. Pois é… mas hoje tenho que registrar mais um capítulo da vida médica como ela é!
Essa aí da foto é a dona Odileuza. Paciente única, que teve um dos piores diagnósticos da oncologia há 9 anos. Adenocarcinoma de cabeça de pâncreas. Foi operada no HUJBB. Sua cirurgia foi um sucesso. Doença que detém um dos piores prognósticos, com raríssimos casos de cura, não foi páreo para a dona Odileuza! Que simplesmente viveu.
Dona Odileuza é costureira. Depois de alguns anos me visitando nas suas consultas de seguimento, sempre surpresa em me ver surpreso de lhe ver bem, me confessou: Dr, fiz uma promessa… pedi a Deus me desse a alegria de poder costurar o vestido de 15 anos para a festa da minha neta. E todas as vezes em que eu a encontrava, perguntava até com ar de brincadeira: e aí dona Odileuza, quantos anos tem sua neta hoje?
Pois bem, neste ano de 2025, recebi dona Odileuza com um semblante de tristeza e apreensão no consultório, perguntei a ela o que tinha ocorrido e a mesma me mostrou uma ressonância de abdômen, indicando um tumor no fígado. Junto com as imagens me disse: Dr, minha neta fez os 15 anos e vestiu o meu presente. Eu não sabia se eu ficava feliz ou triste, se ela tinha sorte ou azar. Afinal, uma metástase do tumor de pâncreas depois de 9 anos? Um segundo tumor , agora no fígado cirrótico por efeito de tratamento prévio com muita quimioterapia?
Enfim, seja qual fosse a resposta, era um caso especial, digno de discussão em sessões clínicas. Tudo devidamente realizado e com veredicto para indicação de nova cirurgia.
Dona Odileuza foi novamente operada há duas semanas. Só que desta vez não resistiu. As complicações inerentes a falência hepática de um fígado doente não permitiram uma recuperação adequada, e hoje, ela partiu.
Estou triste por não poder mais bater aquela nossa foto anual… Estou feliz de ter sido um instrumento Dele que proporcionou a realização daquele belo sonho de avó! Vá em paz dona Odileuza!