14/03/2025
Conversei com uma senhora no seu leito de morte
As vezes a vida nos dá oportunidades únicas para vê-la em sua essência.
Ela me disse que sabia da proximidade da sua morte, e que estava sentindo uma morte tranquila.
Mas ela tinha medo, medo de não dar conta do que tem por vir.
E de tudo que eu poderia falar, eu preferi ouvir
Findar a vida material com consciência das últimas horas, não é uma experiência que todos vão viver
Mas a consciência da vida todos podem sentir
Eu li pra ela o poema "tempo" de Carlos Drummond de Andrade. Poeta esse que ela disse gostar muito.
Na poesia, ele diz sobre a nossa audácia humana em industrializar o tempo, colocar em relógio nossos fazeres excessivos em doze meses para enfim, recomeçar
Não foi a toa que escolhi essa poesia
O tempo do relógio prega peças
Meus minutos com essa senhora ultrapassaram o tempo material, ficará marcado como memória. E a memória, ainda que eu a perca, será parte de mim e isso, relógio nenhum irá tirar
Ela gostou da poesia e eu também, mas o tempo do relógio me voltou pra pressa humana, e eu a disse que ela não passaria por isso sozinha.
Não sei se no meu retorno ela ainda estará lá, mas sua troca comigo sempre estará!
. Março, 2025
Há alguns anos utilizo a Escrevivência da Conceição Evaristo para elaborar e explanar meus sentimentos. Não estamos neutros no contato com o outro e sinto que este perfil pode ser uma boa oportunidade de apresentar pela escrita como tenho vivenciado a prática.
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