03/06/2025
Hoje, depois de muito tempo, estive no bairro da Pampulha novamente. E foi uma experiência tão significativa quanto potente.
Foi lá que dei meus primeiros passos — ou melhor, minhas primeiras engatinhadas — na prática clínica. Foi o local do meu encontro com minha primeira supervisora, que, além de abrir espaço para que eu atendesse sublocando alguns horários da sua sala, me encaminhou minha primeira paciente após a conclusão da faculdade. Ela confiou em mim e no trabalho que poderia surgir daquela dupla analítica. E eu, por outro lado, apostei também: nos vínculos, na psicanálise, em mim. Acreditei no quanto poderia crescer e me desenvolver a partir daqueles encontros e percursos.
Não medi esforços. Lembro que pegava o ônibus 5401, que saía do Coração Eucarístico e levava cerca de uma hora até a Pampulha — e outro tanto a mais para voltar. Entre idas e vindas, perrengues, inseguranças, dúvidas, aprendizados e conquistas, de ponto em ponto, passo a passo: fui me expandindo e crescendo.
De lá, passei a sublocar meu próprio espaço. Depois, mudei de bairro. E ao voltar hoje à larga avenida Coronel José Dias Bicalho, vendo quantas lojas novas surgiram e quantas coisas ainda permanecem — como o mesmo sabor do folhado de brigadeiro (para nossa alegria!) —, me dei conta do quanto eu também mudei nessa caminhada. Mas percebi, igualmente, o quanto algumas coisas seguem firmes dentro de mim.
Sinto uma profunda gratidão por nunca ter me sentido sozinha nesses caminhos. Por ter encontrado pessoas sensíveis e generosas, que ajudaram a alimentar a fé que sigo tendo: na psicanálise, nos encontros humanos — e em mim mesma.
Lembrei até da fala bonita de Renata Maglioca:
“É do mar de começos que nascemos e seremos.”
Não apenas dos nossos primeiros mil dias de vida, com suas inaugurações de choros, sabores e palavras, mas também — quem sabe — dos primeiros dias de clínica, das sementes lançadas nos nossos inúmeros inícios. Porque, tempos depois, é pela qualidade das flores e dos frutos que se vê, reconhece e honra o terreno de onde vieram.
Nas fotos: a beleza da lagoa da Pampulha, das flores e da Carol minha primeira supervisora e querida amiga 🌷