28/08/2025
O ano é 2017. Um dia de expediente normal, como outro qualquer. Depois de ter passado cerca de 1h no ônibus, eu precisava agora atravessar um longo caminho a pé, até chegar no trabalho. O tempo estava seco e quente, muito quente. No fone, uma música tocava no repeat diariamente:
“Que das minhas feridas saía poder pra curar, que cada hora perdida me lembre que não é pra eu parar…”
Eu estava saindo da fase mais difícil da minha vida profissional até então. Eu não conhecia o termo “burnout”, mas tinha experimentado intensamente todas as suas facetas. Eu tinha um diploma engavetado, um sonho adormecido e muito mais obstáculos e questionamentos do que soluções e respostas.
Corta pra hoje, quase uma década depois. Acordei cedo, deixei meus filhos na escola e fui pra faculdade. Mas, dessa vez, eu não estava sentada ali nas primeiras cadeiras, tentando sugar todo o conhecimento possível, admirando aquela pessoa tão inteligente na minha frente e me questionando se um dia eu seria capaz de fazer algo parecido.
Eu estava ali, contando como é ser psicóloga. Como é atender e ajudar pessoas com… burnout. Dividindo uma experiência diária. Meu Deus, isso está acontecendo?
Imersa na frustração e no cansaço, eu não tinha ideia do que estava plantando naquela época. Não tinha ideia do quão necessário era sentir na pele. Pra que das minhas feridas saísse poder pra curar, precisaria haver feridas, certo?
E foram muitas. Anos de muito malabarismo. Estudo, planejamento, serviço público. Medo, sonhos, vontade. Tarefas domésticas, serviço na igreja. Filhos, pandemia. Portas fechadas. Muitas portas fechadas. Onde estou errando? Porque não tá dando certo? Algum dia isso vai romper?
Eu me esforçava pra dar conta de tudo sem perder a esperança (muito embora tenha perdido em alguns momentos).
Olhar pra trás e reviver tudo isso, agora como uma história contada, uma mera lembrança, ainda me causa um estranhamento. Que loucura! Parece que foi ontem ao mesmo tempo que parece que foi um delírio.
Eu achei que estava apenas sofrendo, quando eu estava sendo forjada.
Àquela Mirela de 2017:
Feliz, muito feliz, dia do psicólogo ♥️