09/05/2021
Texto por Georgina Fagundes
No dia 19 de agosto de 2015, nasceu meu rebento. Eu tinha 43 anos e já não contava mais com esta possibilidade na vida. Sempre quis ter filho(s), mas a vida foi passando, investi muita energia em outros projetos e, aos 42 – “do segundo tempo” – engravidei, sem planejamento algum. Muito medo e ansiedade me rondaram, mas uma alegria imensa tomou conta de mim ao ver o teste positivo de gravidez!
Tratava-se de um projeto SOLO (gosto da ambivalência deste conceito, que carrega em si uma consciência política!); e, naquele momento, o Brasil começava a fazer uma travessia dolorosa pelos pântanos tenebrosos da distopia e da barbárie. Além de não contar com um parceiro e com um contexto sociopolítico favorável, também não contaria com a minha mãe, já falecida. Encarei a minha realidade, na força bruta!
Quando Jorge nasceu, esperava, no mesmo instante, o nascimento de uma mãe. Não aconteceu! Tive pânico. Olhava para aquela figura, absurdamente dependente, e sentia-me atordoada. Para o cenário ficar mais desafiador, não tive como amamentar meu filhote. Uma mamoplastia redutora, aos 23 anos, me impedia de alimentá-lo. A saga da amamentação foi sofrida. Foram 23 dias, com o peito dilacerado, sem dormir, e, psicologicamente, desestruturada, tentando fazer a translactação. Após este período, com apoio médico, optei pela mamadeira, e minha vida mudou. Meu bebezinho ganhou peso (e, muito!), e, eu comecei a adentrar, conscientemente, no longo e tortuoso caminho de tornar-me MÃE!
Costumava dizer à época: meu filho nasceu de cesariana, mas a mãe que habita em mim tá atravessando o canal vaginal até hoje!
Atualmente, Jorge está com 5 anos, é o meu grande AMOR, e me desnuda a cada segundo, invocando-me a uma maternidade intensa e real.
Neste dia das mães, penso que temos, como mães politizadas e conscienciosas da frágil maternidade, que relevar, a todo o instante, a agressão que sofremos e a solidão que sentimos com a romantização e a naturalização desde papel social, que estará sempre em permanente construção e elaboração.
Que a celebração deste dia seja uma reflexão política acerca deste papel social tão importante e tão complexo!