20/10/2025
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Seria essa sala o espelho corrosivo do mundo?
A atuação de Leonie Benesch é de uma força rara. Ela carrega o peso da culpa e da lucidez nos olhos, num retrato preciso de uma mulher engolida por um sistema que cobra perfeição, mas oferece desamparo. Ao lado dela, o jovem Leonard Stettnisch, no papel do aluno Oskar, dá corpo à angústia e à vulnerabilidade de quem cresce em meio a um ambiente de desconfiança generalizada.
A Sala dos Professores não fala apenas sobre a escola, fala sobre a sociedade inteira dentro de uma escola. Cada personagem representa uma engrenagem do mundo moderno: o aluno vigiado, o professor sobrecarregado, os pais indignados, a diretora acuada, a opinião pública que tudo consome e nada entende.
No fim, Çatak nos obriga a olhar para dentro. A sala de aula é apenas um espelho: o caos está do lado de fora, e dentro de cada um de nós. Num país que celebra o Dia dos Professores em meio a cortes, ameaças e descrença, o filme soa como um grito abafado. Um lembrete de que ensinar é um ato político e emocional, mas também uma forma de resistência silenciosa.
A Sala dos Professores é, antes de tudo, sobre isso: o conflito entre o ideal e o real, entre o dever e o desejo de fazer o certo, mesmo quando ninguém parece saber o que é o certo. E talvez o cinema, como a educação, ainda exista justamente por isso — para nos lembrar que algumas perguntas não precisam de resposta. Apenas de coragem.
Texto de