23/03/2022
No mês da mulher, todas precisam de homenagem.
🌹 IJBsb - AJB - IAAP
Uma Jovem Bugra Índia
Quando meu olhar pousou sobre o desta jovem mulher índia, foi amor à primeira vista!
Que expressão singular: altivez, serenidade, um olhar além do tempo, suas mãos fortes, pousadas delicadamente sobre o ventre… e ainda estes seios fartos…
“Trata-se de uma bugra índia matogrossense”, informou o atendente. Ali me detive por mais tempo. Conquistou-me! Trouxe-a, uma companhia no retorno para casa nesta tarde de domingo.
Bugra. A palavra inquietou-me e assim cheguei à Conceição Freitas da Silva (1914-1984), a Conceição dos Bugres, artesã indígena que se tornou conhecida por sua produção das “bugres”, esculturas humanas em madeira, de explícitos traços indígenas e que se tornaram ícone cultural e de identidade do Mato Grosso do Sul.
Em 2021 o MASP realizou a exposição "Tudo é da Natureza do Mundo", dedicada à obra de Conceição.
Segundo Miguel Chaia, curador de outra exposição da artista, em 2017, o termo “bugre” utilizado por ela para nomear a si mesma e suas esculturas é uma ressignificação. Na arte de Conceição, o termo “bugre” designou os indígenas combatidos, perseguidos e afastados do seu território.
Para Conceição, desconhecida para mim, o formato das esculturas já existia antes mesmo do trabalho começar. Buscava dar vida a elas, reproduzindo a forma que a madeira desejava, humanizando-as e, quando questionada em entrevista, por que esculpia, respondeu: “Faço para ter a companhia delas”.
Agora, ao conhecer esta declaração da artista, posso constatar o significado do desejo em ter, também junto a mim, esta representação simbólica, que uma artesã desconhecida de Mato Grosso criou. Ela, a escultura, escolheu-me. Desta maneira nossos olhares continuarão se encontrando, numa linguagem de almas, plena de sentidos.
Busco assim homenagear aqui todas as mulheres que, em todas as épocas, foram depositárias e souberam expressar o princípio feminino, esta manifestação arquetípica que chega e nos toca por tão variadas e inúmeras formas. Como Boechat pontua , ao citar Jung “a própria mãe e a avó, a madrastra e a sogra, uma mulher qualquer com a qual nos relacionamos, a ama de leite ou ama-seca (…) a deusa, principalmente a mãe de Deus, a Virgem… Sofia… e, em sentido mais amplo (…) a cidade ou país, o céu, a terra, o mar e as águas quietas…”.
(JUNG, C.G. Aspectos do feminino. Vozes, 2019 e Wikipedia)
- Por Ana Inêz Carvalho,
Candidata analista em formação - IJBsb