11/09/2017
Projeto quer autistas no mercado de trabalho.
O programador, analista de sistemas e professor universitário de informática, Antônio Carlos Nicolodi, desenvolveu um programa (Visualg 3.0) interpretador, editor e criador de algoritmos escritos em Portugol (Algoritmos em Português, na linguagem da informática), com mais de 1,5 milhão de downloads na rede mundial. Agora, ele quer ensinar lógica de programação de computadores para crianças e jovens clinicamente diagnosticados com autismo. Para o professor, os portadores da síndrome têm características que se adaptam perfeitamente à atividade: alta concentração e emocionalmente estáveis, ou seja, não se abalam com qualquer coisa.
“Existem estudos que apontam que alguns jovens de grau 1 de autismo apresentam-se com raciocínio extremamente lógico e racional, até com um certo gau de exagero. Autistas classificados em outros níveis também podem ser ensinados, porém vai depender de cada pessoa”, explica Nicolodi. O projeto, que o professor pretende transformar em mais uma tese de mestrado no próximo ano, nasceu da sua experiência em sala de aula com dois alunos autistas e um terceiro que ele dá aulas particulares. “Observei que eles tinham muita facilidade de trabalhar com números, em buscar fórmulas de matemática mais difíceis. Um destes alunos foi o destaque da turma”, revela.
Em suas pesquisas, Nicolodi descobriu que o mercado mundial de desenvolvimento de sistemas de informação, principalmente na área de programação de computadores, tem uma enorme carência de mão de obra qualificada. “O Brasil ainda não descobriu o valor dos autistas nesta área, outros, porém, já investem no aproveitamento dessa mão de obra”, conta o professor. No Japão, por exemplo, os autistas são treinados para trabalhar com robótica. “Mas, de maneira geral, os autistas sofrem discriminação no mercado de trabalho, pois são mal compreendidos e com potencial pouco explorado”, afirma Nicolodi.
O professor tem fortes motivos para achar que o seu projeto pode ser a porta de entrada de um novo mundo para os autistas. O primeiro, e mais importante, é o da inclusão social, pois o autista passará a ser visto como útil para a sociedade. As outras duas vantagens apontadas por ele são a do empresário ter um funcionário com alta dose de concentração, ou seja, totalmente focado no trabalho e da família do autista passar a vê-lo como alguém produtivo e com renda financeira própria. Nicolodi, que reside em Gaspar, esclarece que o projeto não pretende obter nenhuma vantagem financeira. “Todo o trabalho de ensinar programação de computador aos autistas será voluntário, o meu único benefício é o da experiência e aprendizado que terei na convivência com eles”, explica.
Mesmo assim, ele vai tentar sensibilizar parceiros da iniciativa privada e pública que tenham o mesmo pensamento dele, isto é, o de apoiar um projeto de inclusão social. “Essas crianças e jovens autistas são verdadeiros diamantes brutos, o que precisamos é lapidá-los para torná-los joias raras e preciosas”, finaliza o professor.
Por Felipe Biscoli Serafin, em 11 de setembro.
Fonte: Jornal Metas.
Foto: Google