Iniciativa Clínica em Psicanálise

10/10/2025

No debate sobre os problemas éticos de quem se coloca no campo social em nome da psicanálise, a crítica inicial surgiu do nosso horror às instituições que reúnem diversas características do discurso neoliberal, como a estética empresarial e o apelo a signos de poder, que potencializam sua eficácia mercantil.

Em algum momento, alguns fixaram palavras a um sentido único, de forma que a imersão fixou um sentido empresarial; a pós-graduação fixou um sentido mercantil; e o cursinho autônomo fixou um sentido ausente de rigor teórico.

Esqueceram que é na cadeia de significantes que o sentido insiste? A significação não está num elemento particular desta cadeia, mas sim quando ela é articulada.

Isso significa que nenhuma dessas palavras, sozinhas, podem dizer algo, tampouco dizer a mesma coisa.

Só é possível ser contra cada uma dessas palavras na medida em que elas são encadeadas a outra, outra, outra e, por precaução, mais uma. Se abrirmos mão desse encadeamento para fixar um sentido a cada palavra dita entre nós, o que vem depois é a barbárie.

01/10/2025

29/09/2025

No trabalho de base é preciso dar um sentido político à emancipação da classe trabalhadora.
Era nesta direção que a equipe do programa de transferência de renda municipal se apresentava a cada pessoa nas periferias da minha cidade.
Escutávamos a realidade e falávamos de uma organização de classe possível, aproximando-os do engajamento político na novidade de um programa de transferência de renda.

28/09/2025

Soube que a genz só se comunica por memes.
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A análise de conjuntura é clara e possui precedente histórico.

16/09/2025

Quem precisa de bacharelado?

05/09/2025

A capa do seminário 18 foi escolhida para dar o devido peso que o chinês tradicional tem para Lacan. Na pintura, o imperador Kangxi está em sua mesa de caligrafia, mas há muitos outros detalhes presentes na imagem.

Miller não costuma explicar as capas, deixando para nós a possibilidade de articular suas possibilidades. Com a ajuda do Cleyton e seu livro Lacan Chinês, a articulação que faço, portanto, começa ao perceber que a China alternava imperadores de diversas etnias diferentes e, na tela, está um representante do povo Manchu, que ascendeu à dinastia Qing.

Ele representava uma etnia minoritária do nordeste do país, sem qualquer influência cultural para os mais de 90% do povo chinês, que era da etnia Han. Então como imperar sobre um povo tão diferente? Os Han possuem uma longa tradição de caligrafia e literatura, de forma que o chinês tradicional foi uma escolha forçada que serviu à dinastia Qing como uma ferramenta de governança e integração cultural daquele que era considerado estrangeiro.

A pintura da capa, portanto, traz um Manchu cercado de objetos da outra etnia: o tapete, o quadro e, sobretudo, a caligrafia. Quem vê a pintura acredita que é um autêntico cidadão do povo Han, mas as aparências enganam, não é mesmo?

Em breve, o terá uma aula sobre a influência do chinês na psicanálise lacaniana.

30/08/2025

Na adolescência, depois de ler As Mentiras que os Homens Contam, deitei no divã do analista de Bagé.

De complexo de Édipo às expressões regionais do sul, ali tinha um aglomerado de palavras que eu, com 15 anos, não conseguia achar seus significados. Deixei o livro de lado e fui folhear Comédias para se Ler na Escola.

Ironia do destino, cá estou, no entanto, com o cuidado de não ser um analista de Bagé.

Hoje, afirmo: se há quem desgoste do analista de Bagé, capaz! Veríssimo deu uma aula de psicanálise às avessas justamente para satirizar os maus psicanalistas que sobrevivem aos montes até hoje.

Estamos falando do analista que tentou arrancar a associação livre com um omoplata;
Aquele que tentou curar o sintoma com uma joelhada de interpretação selvagem;
O que decidiu seguir o ofício que criou o Édipo e prescreve a zona;

O analista de Bagé ainda existe até hoje, e o recurso combativo do Veríssimo foi o humor, mais eficaz do que muita proposta de regulamentação da psicanálise que vemos por aí. E quem não entendeu isso, nem joelhaço dá conta.

12/07/2025

27/05/2025

Viva o SUAS e viva o serviço público

19/05/2025

O uso dos aparatos de poder sobre os corpos femininos ainda rende casos recentes como esses.

São casos de subjugação que, na maioria das vezes, são fruto de uma nefasta mistura do ato médico com familiares tiranos.

Quantas como essas não ficaram anos internadas em Salpetriere até que o pequeno grupo de Charcot tomasse a coragem de enfrentar a hegemonia da má ciência naquela época?

Não basta a eventual justiça que possa acontecer nesses casos, com CRM cassados, familiares presos, juízes aposentados compulsoriamente.

É preciso um novo rasgo no discurso científico.

28/04/2025

Essa é a primeira de uma série de três publicações sobre o fenômeno .

Por enquanto, a mensagem é questionar a enormidade de julgamentos e preconceitos que estão fechando qualquer possibilidade de escuta desses sujeitos, inclusive das situações em que o reborn é expressão de sofrimento.

O momento é de escuta (clínica ou documental), assim como está fazendo.

07/02/2025

Ao meu ver, a crítica que se atribui aos movimentos de luta da população negra, feminista, LGBT+ e afins, imputando-os um identitarismo em tom pejorativo, serve nitidamente à manutenção da atual classe dominante.

Isso porque os grupos identitários por excelência são, na verdade, esses que atualmente exercem poder sobre a classe pobre/trabalhadora através de sua ideologia colonizadora, heteronormativa, brancocêntrica, falocêntrica e afins.

Diferente do Safatle (quem sou eu pra discordar dele?), não classifico o discurso dominante como "identitarismo branco", apesar dele ser majoritariamente composto por essa etnia. Ao enquadrá-lo como fenômeno de classe, remeto sua gênese no contexto atual a mais uma degeneração do capitalismo, isto é, que compõe mais uma das inúmeras formas de exploração para manter a assimetria no tensionamento das classes. Não por acaso a população negra é a mais explorada, pois o sistema capitalista extrai dessa massa a força de trabalho para produzir a riqueza de poucos, e assim a burguesia quer que permaneça.

Dito isso, também é possível refletir criticamente sobre as exceções nos referidos grupos progressistas, mas de partida me recuso definir o todo pela parte.

Precisamos, sim, estar advertidos de que não podemos fazer da causa do desejo do capitalista uma causa nossa, naturalizando um gozo que se situa no ter o objeto a. Reivindicar um tal objeto que foi subtraído pelo efeito da linguagem é um imperativo do capitalismo, e por objeto podemos compreender não só os gadgets produzidos pela ciência, mas qualquer produto que, por compensação, tampona em fantasia e sintoma uma falta. Até mesmo resgatar aquilo que nos falta como se os predicados preto/pardo, LGBT+, periférico, etc., pudessem realmente nos definir. Circular a palavra é uma disposição de falar e escutar além desses predicados.