06/10/2025
Eu não tenho a intenção de desmanchar o que me sustenta. O ego.
Mesmo quando o chão se tornou opinião alheia,
e cada passo ecoava mais julgamento do que cuidado,
ainda assim, eu caminhei.
Meu ego não é vaidade — é vértebra.
Segura o que muitos tentaram dobrar em nome do que chamavam amor.
Ou algo parecido.
Difícil dizer onde terminava o zelo e começava o zelo em me refazer.
Como se existir do meu jeito fosse desvio.
Como se meu reflexo devesse pedir desculpas.
Minha sombra, essa sim, me entende!
Ela me sussurra coisas que só quem já ouviu silêncios estranhos entenderia.
Silêncios que não eram ausência de som,
mas excesso de presença que pesa.
Palavras que não vieram — e mesmo assim feriram.
Toques que faltaram — e ainda assim afastaram.
Sou feita de fases que não peço para ninguém acompanhar.
Se quiser ver o todo, terá que aprender a olhar no escuro.
Não sou só primavera.
Tenho raízes que se perdem em invernos longos,
mas que insistem em brotar, mesmo quando o solo duvida.
Não nego ajuda.
Mas já aprendi a não estender a mão onde há dedos que apontam.
Nem sempre quem oferece companhia vem inteiro.
Às vezes é só presença com ausências escondidas.
Eu sou gentil.
Mesmo tendo colhido espinhos em lugares onde prometeram abrigo.
Mas ainda assim, floresço.
Não por teimosia — por natureza.
Tenho orgulho do que permanece em mim, mesmo após as marés.
Mesmo quando o vento carregou palavras pesadas demais para quem só queria leveza.
Mesmo quando gestos suaves vieram com bordas afiadas.
Mesmo quando o espelho hesitou em me reconhecer — e eu o perdoei.
Há coisas que não se dizem.
Mas moram nas pausas e desvios.
No jeito como algumas mãos não se estendem,
ou como certas vozes têm gosto metálico.
E mesmo assim…
eu fico.
Em mim.
Com tudo o que sou.
E com o que deixei de ser para me manter viva
Sabrina Nicoletti.