23/08/2025
Observatório Psicanalítico OP 606/2025
Redes Sociais e a função paterna
Heliana Reis – SBPCamp
Nesse mês foi comemorado o Dia dos Pais e, para além das críticas que podem ser feitas em relação à comercialização da data, é fato que as famílias se reúnem e os filhos tratam de homenagear seus pais. As redes sociais ficam repletas de fotos de família, mensagens e considerações a respeito da relação entre pais e filhos. Quem tem a sorte de ter pais protetores, cuidadosos, tem um presente. Essa questão sempre me intrigou, principalmente quando penso no número de filhos órfãos, de filhos abandonados por seus pais, de filhos nunca legitimados, de filhos que não tiveram a oportunidade de uma convivência próxima e saudável com a figura do pai.
Freud é considerado o pai da Psicanálise, e em sua obra encontramos inúmeras considerações sobre a importância da figura paterna na estruturação do psiquismo: sobre o desenvolvimento psicossexual, a sexualidade infantil, o complexo de Édipo e a saúde mental. “Não me lembro de nenhuma necessidade da infância tão grande quanto a necessidade da proteção de um pai.”
A psicanálise e seus vários autores têm se debruçado sobre essa questão. Alguém que exerça a função paterna, que não é necessariamente exercida por uma figura masculina, implica uma função simbólica específica na relação entre a criança ou adolescente e o adulto: oferecer os limites protetores, introduzir a ideia da falta, da impossibilidade de satisfação completa, considerar a assimetria entre o responsável e o dependente, dar o contorno que impede as invasões, aplicar as regras, ensinar sobre as leis; enfim, possibilitar a inserção na cultura. Lacan destacou que essa operação simbólica está relacionada ao Nome-do-Pai, operador que introduz a lei e inscreve o sujeito no campo da linguagem. Winnicott, por sua vez, mostrou como o ambiente suficientemente bom protege e sustenta o desenvolvimento, cabendo à função paterna somar-se à materna no sentido de estabelecer contornos, prevenir a intrusão e, sobretudo, possibilitar experiências de diferença e separação.
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