09/08/2019
Reflexão totalmente pertinente para os dias atuais😉 with
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Minha filha, que tem pouco mais de um ano de idade, aprendeu a abrir zíperes, gavetas, alguns potes - e tomou gosto por colocar para fora tudo aquilo que antes estava dentro. Um modo de fazer nascer as coisas?
O fato é que é lindo, eu acho lindo ela fazer a bagunça que ela faz, mas depois há que ter alguém que a arrume, porque a beleza contrária, a de fazer o que antes era 'fora' virar 'dentro', ela ainda não descobriu.
Algumas "terapias da moda" são assim. Técnicas que parecem lindas, porque desencadeiam coisas íntimas, situações sérias, convocam o sujeito rapidamente a lidar com o pior de si. Tiram tudo-tudo-tudo-e-qualquer-coisa da gaveta, sem restrição alguma. Porém, uma vez fora, não sabem o que fazer com aquilo. E aí temos sujeitos devastados, perdidos e desamparados que, em busca de respostas e soluções rápidas, o que encontram é um atalho para um sofrimento ainda maior.
Pois, saibam: não basta tirar as coisas da gaveta, é preciso dar um destino para elas.
Não convoquemos os demônios com os quais não sabemos lidar.
É por isso que a psicanálise nasce com o abandono da hipnose: não basta tirar a fórceps um conteúdo inconsciente, é preciso dar dignidade à resistência!
De que adianta em uma ou duas sessões, ou em uma imersão de final de semana convocar tantos conteúdos (por efeito da sugestão, o que é bem duvidoso) se depois não haverá o que fazer com aquilo?
Mais prudência, por favor. É sempre preciso alguém que arrume a bagunça depois. E só se trata de enfiar tudo na gaveta de novo nas bagunças das crianças. Nas demais, isso não é possível.