Rhodys R. Sigrist - Psicólogo Clínico

Rhodys R. Sigrist - Psicólogo Clínico Psicoterapeuta em consultório particular desde 2013. Formado pela PUC - Campinas.

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Trabalho e(m) Alma– Por Rhodys R. Sigrist Aquilo em que dedicamos tempo trabalha em nossa alma. Tudo aquilo que nos atra...
30/08/2018

Trabalho e(m) Alma– Por Rhodys R. Sigrist

Aquilo em que dedicamos tempo trabalha em nossa alma. Tudo aquilo que nos atrai e nos “faz lutar” diariamente tem uma natureza obsessiva compulsiva. E para que fazemos isso? Só o tempo responde, não há outra alternativa. Se o tempo dizer que o trabalho desanimou a alma a ponto de fazê-la desistir, nada a segurará. E engana-se quem pensa que precisa achar uma motivação interna, fazer workshops de mindfullness ou olhar para o extrato bancário para achar uma forma de seguir em frente. A alma não entende essa linguagem estranha, cheia de barulhos e números. O verdadeiro trabalho dela, ela dirá.
E não é uma questão de errar para achar o caminho certo. Pode-se acertar de primeira ou errar por décadas, ou até mesmo trocar de caminho para ver se o que estava seguindo era tão forte assim. É uma questão de quanto tempo levamos para termos humildade suficiente para trabalhar naquilo que tanto queremos. E trabalho não é apenas algo relacionado à troca de serviços por recursos capitais: Tudo aquilo que cria, produz e faz ter vida é trabalho. Um hobbie levado à sério é um trabalho (e muito mais bem feito diga-se de passagem).
Seriedade é outra faceta do trabalho. Aquilo que é feito por lazer e sem dedicação é um divertimento. Pode se tornar trabalho um dia? Sim, havendo dedicação. Mas se divertir sem se dedicar não é demérito. Todo mundo precisa ser ruim em alguma coisa e rir dos próprios pés tropeçando. Imagina se todo mundo jogasse bola igual o Cristiano Ronaldo? Ser bom em tudo é enfadonho.
Voltando para a seriedade, é ela que determina o quanto a nossa dedicação irá nos transformar. Se levamos algo a sério, o foco é outro, aprendemos a filtrar o que presta e o que não presta, lidamos melhor com as falhas, nos tornamos mais pacientes com o processo, pois ele está em nós agora. E a paciência é o sinal de avanço no trabalho, de que ele está surtindo efeito. A alma não reside em lugares sem paciência; ela não tem paciência para isso.
Por isso volto no início da coluna dizendo que não adianta “fabricar” uma motivação sobre algo que não me dá a mínima vontade de estar ali, como se eu fosse o alien daquele planeta que acabei pousando sem querer.
E você, gosta daquilo que faz?

Cuidados para a depressão – Por Rhodys R. Sigrist De alguns anos para cá, muito se difunde sobre os riscos da depressão ...
31/07/2018

Cuidados para a depressão – Por Rhodys R. Sigrist
De alguns anos para cá, muito se difunde sobre os riscos da depressão e suas possíveis causas. A depressão virou um mal, desencadeado por diversas falhas ambientais e biológicas. A depressão nunca tem nada a acrescentar senão uma ruína social difícil de combater, pois ela é sutil e ocorre dentro do sistema nervoso central, área muito delicada e controversa quando o assunto é emoções. Todavia, não entrarei em tamanha profundidade, e pegarei um aspecto que é muito debatido, mas pouco desenvolvido, que é o produtivo.
Quantos atestados não são emitidos por semana atestando depressão? O que me faz pensar que não estamos preocupados em discutir sobre depressão, e sim que ela está sendo combatida cegamente a fim de continuar gerando. Pouco importa se estou depressivo por motivos que vieram pouco a pouco se apossando de mim e com a depressão consigo sentir minha real fraqueza e inutilidade, ver que sou limitado. Grande parte das pesquisas sobre depressão comenta sobre suas causas e possíveis tratamentos. Já viu alguma pesquisa dizer “é comum que várias situações da vida nos abale. Stress sempre vai ocorrer e não dá para evitar. Essa pesquisa pretende discutir sobre a depressão, sem entrar no julgamento de ser nociva ou não, mas procurar compreender por que ela está abalando tanto as estruturas sociais, qual ferida ela tocou em nós”. Claro que coloquei aqui com as minhas palavras, indo para o aspecto simbólico. Mas é pouca a preocupação em discutir o que realmente ela é. Se a definirmos como um mal do século, ela vai ser. É diferente de um resfriado crônico que tem causas, agentes e tratamento bem definidos, a depressão não é um vírus, ela não tem um motivo específico, ela deveria ser assunto mais da psicologia e psiquiatria do que da neurociência.
A Neuro vai até a parte descritiva sobre o que ocorre dentro do sistema nervoso. Ela não leva em consideração aspectos emocionais, até porque as emoções são apenas reações neurobiológicas. Suas soluções são sempre físicas, e ela não está errada; é a sua especialidade. Freud não fala especif**amente de depressão, mas comenta sobre a melancolia. Faz um ensaio, observa seus pacientes, procura entrar dentro do caso e levanta hipóteses psicanalíticas. Mesmo com resquícios patológicos, a melancolia passa a f**ar mais humana, vira um processo aceitável e não um desespero iminente precisando de intervenções farmacológicas imediatas. Aliás, Freud tomou um belo tombo com suas receitas de co***na para pacientes e passou a dar mais valor para a associação livre depois de ver o estrago que a substância causou em um de seus amigos. Temos que tomar cuidado para não repetirmos os mesmos erros com formas diferentes. Ou aprendemos a suportar, ou seremos insuportáveis para nós mesmo.

Memorabilias – Por Rhodys R. SigristMuito se discute sobre a necessidade do “ter” como uma consequência de uma sociedade...
03/07/2018

Memorabilias – Por Rhodys R. Sigrist

Muito se discute sobre a necessidade do “ter” como uma consequência de uma sociedade capitalista. Falamos que ter não é ser, que acumulamos muitos, que queremos o que não precisamos... E pouco se fala sobre a matéria. Também é comum ver que a obrigação de adquirir bens é uma das formas de se lidar com algum vazio pessoal, e são determinados tipos de pertences que atrai específicos tipos de necessidades (num sentido de fome, numa necessidade de me nutrir de algo que me faz falta).
É interessante pensar: Será que estamos tão focados em dizer o que somos e definir nossos impulsos que estamos nos esquecendo da nossa relação com o mundo e os objetos? Como um dia pensou Jung: “Será que sou eu que estou pensando sobre a pedra, ou a pedra está pensando sobre mim?”. Ou seja, será que eu penso o que quero ou o que estou pensando é resultado de alguma imagem em mim que quer ser vista? Caso as coisas pensem sobre mim, elas têm algum tipo de alma que me atrai e que precisa de mim para algo que preciso ouvir.
Basta olharmos para o nosso quarto, e acharemos lá alguma memória cravada em algum livro, souvenir, tênis... A matéria também viveu, e somos responsáveis pela memória dela. Quem consegue se desfazer do livro que a mãe deu para ajudar nos estudos? Quem doa a chuteira que fez o gol crucial para ganhar o campeonato de futebol da empresa? Nossos bens têm vida, e somos os guardiões dela. Uma vez consultei uma acumuladora. Ela sentia necessidade de sempre comprar roupas e panelas, e tinha tantas que a maioria nunca fora usada. Com um bom tempo de análise, chegamos nas suas memórias mais profundas, e nelas vimos alguém que ainda sentia fome e frio. Não importava o número de panelas, tê-las signif**ava que existia uma forma de suprir a fome, pois quando havia panelas à mostra em casa quando ela era pequena, havia comida. A mesma coisa com as roupas. Por isso não dá para subestimar o poder da matéria, ela exige um espaço só para ela, para que nunca seja esquecida.
Por isso vejo que a volta narcísica sempre nos faz f**armos muito tempo em nós mesmos, preocupados com nossas patologias, querendo saber o nome delas como se fosse a resposta definitiva eu precisava para apaziguar nossa responsabilidade. Aquilo que nos provoca pede para darmos um pedacinho de atenção. Se queremos tanto comprar coisas, seja lá pra qual motivo, essas coisas não são fúteis. Nada que cause alguma emoção é fútil, porém podemos tornar muita coisa fútil se simplesmente queremos esquecer. E é difícil olhar pra chuteira que fez o gol no final do campeonato e ver que os dias de atleta acabaram, mas é mais difícil jogar toda uma alegria fora porque não há ninguém para compartilhar.

Questão de Princípios – Por Rhodys R. Sigrist Em tempos líquidos, como diria Baumann, é difícil delimitar quais atributo...
29/03/2018

Questão de Princípios – Por Rhodys R. Sigrist

Em tempos líquidos, como diria Baumann, é difícil delimitar quais atributos morais garantem satisfação pessoal e social. A cada momento as mídias e redes sociais mostram, realçam e buscam medidas para o que é certo de se fazer e pensar. O tipo de moral em evidência está voltado para o lado negativo, que retirando e reeducando nossos maus sentimentos, teremos uma sociedade melhor e uma vida plena.
Sobre a busca da perfeição e da sensação plena, como um sentimento acolhedor, Freud, pai da psicanálise, discorre – resumidamente – que essa busca é uma forma de se distanciar da realidade. Isso porque muitos aspectos do real não são levados em consideração (ou como diria a psicanálise, são recalcados) e por não existir um espaço de diálogo com eles, por não causarem prazer, passam a existir como uma ameaça. Esse tipo de funcionamento que visa o bem-estar pleno, Freud denominou como um “Eu-de-prazer”, contendo resquícios de maior ou menor escala do Princípio do Prazer, que o próprio nome diz, busca apenas aquilo que lhe agrada.
Até o nosso organismo buscar satisfação e evitar a dor não é nenhum problema, inclusive é saudável. O problema se torna quando não conseguimos distinguir que meu sentimento de felicidade plena não dura 24h por dia e que eu preciso lidar com momentos onde as coisas não sairão da forma que quero e planejei, que haverá perdas, e mesmo assim a vida continua e que uma hora a satisfação vai chegar, mesmo que não seja plena, porém será confortável, que cabe na minha vida. A partir do momento em que não preciso mais aniquilar tudo aquilo que não me causa prazer, começo a criar uma separação entre eu e o outro, de que esse outro também pode estar passando pelo mesmo processo.
É muito sutil o limite entre quem eu sou e quem é o outro, pois todos nós passamos pelo mesmo processo. E a dificuldade se encontra exatamente por passarmos por processos semelhantes. É como se encontrássemos vários espelhos espalhados por aí em forma de pessoas. Em outras palavras, o sentimento oceânico, usando as próprias palavras de Freud, nos deixa indiferenciados quanto ao que Sou no mundo. Enquanto só buscar o que me agrada, precisarei me defender constantemente de coisas estranhas; criarem inimigos que não sei de onde vem. A busca sairá pela culatra. Um princípio de realidade que me faça ter noção de que nem tudo que quero posso ter na hora é um ótimo começo para começar a olhar com um pouco mais de tolerância para o que me é estranho, afinal, não é à toa que falamos tanto sobre aspectos negativos tentando achar nisso a fórmula do prazer positivo. Talvez seja uma forma da vida colocar uma pilha em nós e tentar nos movimentar, a questão é sempre saber para onde iremos assim.

Luz e sombra não podem ser encomendadas – Por Rhodys R. Sigrist Experimente um dia (se já não o fez), andar pelo centro ...
03/02/2018

Luz e sombra não podem ser encomendadas – Por Rhodys R. Sigrist

Experimente um dia (se já não o fez), andar pelo centro da sua cidade na madrugada em um dia de semana. A sensação é de estar em outro lugar. Não só pela ausência da agitação costumeira das tardes; o lugar é outro. As luzes que aparecem são outras, as pessoas que se destacam e até mesmo os sons mudam. Outro lugar com outro aspecto. Parece ter dupla personalidade. Ou será que realmente tem?
Não são apenas os lugares, mas nós possuímos uma “personalidade diferente” dentro dos lugares onde vamos. Minha percepção da cidade de madrugada não é a mesma de dia e a percepção da cidade sobre mim também irá variar, até porque eu não estou olhando para ela da mesma forma, e ela também. Um exemplo bem simples é o medo. É diferente o medo de andar na cidade de manhã e à noite. O mesmo lugar e a mesma pessoa e algo mudou entre os dois.
Há uma frase de um psicólogo chamado James Hillman que diz “Deus é lugar”. Os lugares têm uma vida a parte de nós e nós dos lugares. Quando há o encontro, ambos se modif**am. Somos os lugares que nos criaram, que frequentamos, e os lugares que vamos são modif**ados por nós. A pichação é um exemplo de dizer “estamos aqui e não seremos esquecidos”. Os mesmos olhos interessados na cidade vazia não são os mesmos que enxergam a cidade reluzida pelo Sol. Andamos, julgamos, fazemos e saímos. E muitas vezes não ligamos para o que deixamos no meio desse caminho. Um sorriso, uma bituca de cigarro no bueiro, um copo a ser lavado na padaria, marcas de freio no asfalto. Algo nosso f**a para a cidade como uma “oferenda”. E a cidade retribui: deixa cheiro de fumaça nos cabelos, um chiclete grudado na sola do sapato, dores no tornozelo por ter tropeçado na calçada desnivelada. O que todos oferecem, volta, seja quem for. Se estamos em um lugar, estamos sujeitos à história que ali está, e uma história sempre duas ou mais facetas, elas só têm seu tempo para serem reveladas, mesmo que tentemos evitar.
Para se conhecer algo ou alguém, é preciso a mágica da paciência. Isso porque apenas o tempo é capaz de revelar as facetas daquilo que somos e o que nos forma. Assim como os lugares, nós não somos os mesmos o tempo todo. Vendo por esse ângulo, não consigo acreditar que a impossibilidade de relações humanas estáveis more apenas na necessidade de se proteger do outro. Talvez não tenhamos paciência o suficiente para ver o outro que nos propusemos a conhecer em outros lugares, outras horas. Essa forma de apreciar demanda entrega, e entregar-se nunca é rápido. Talvez a crise atual dos Correios nos diga muito sobre como estão sendo nossas entregas...

O Banquete – Por Rhodys R. Sigrist Fala-se muito sobre a importância de uma vida saudável que abranja uma alimentação ba...
02/12/2017

O Banquete – Por Rhodys R. Sigrist

Fala-se muito sobre a importância de uma vida saudável que abranja uma alimentação balanceada, práticas esportivas e bons hábitos. Quando falamos em uma vida saudável, são esses três pilares que primeiramente pensamos. Ter uma vida onde tenhamos uma boa relação com nossas emoções f**a em segundo plano ou sequer aparece. E esse é um dos pontos onde toda vida saudável, inclusive a alimentação começa.
Vários estudos de distúrbios alimentares comprovam que cargas emocionais estão ligadas diretamente com a alimentação. Isso acontece tendo em vista que a alimentação é a necessidade básica primordial para vivermos e por ela se cria um laço afetivo. Nossa primeira alimentação começa com a mãe, no útero. Nos nutrimos do que ela nos fornece. O cordão umbilical é substituído pelo peito na primeira infância. Continuamos dependentes. Todo esse processo está vinculado ao emocional. O prazer de receber nutrientes diretamente, de mamar, do colo fornecido. Tudo isso cria um vínculo e vai formando nosso caráter. Ou seja, nos estágios iniciais da vida é a forma como somos alimentados que cria nossas emoções. Quando adultos, temos que fazer o caminho oposto. Precisamos entender sobre nossas emoções para criar uma relação saudável com a comida.
Que mulher nunca quis comer uma barra de chocolate na famosa TPM? O alimento acalma, regula as intempéries do corpo. Mas se nos entregamos completamente para a sensação de conforto, uma barra vira cinco, sete, dez... E depois vem a culpa. “O que estou fazendo com meu corpo? ” vem disfarçado em pensamentos sobre obesidade, celulite... e o recado não é ouvido pela fixação na estética.
A mudança de hábitos alimentares e práticas esportivas é um movimento fácil: Qualquer pessoa, a não ser que tenha restrições severas, pode começar a comer algo diferente ou sair para uma caminhada. A obrigação do sadio está concluída. Mas dificilmente a maioria da população mantém uma regularidade, e a culpa cairá sobre o trabalho, no cansaço, na rotina dura que merece uma comemoração no final de semana. Culpados nunca faltarão. Um ciclo interminável começa por nos distanciarmos da realidade. E a realidade é que a sensação, com sua natureza irracional, é quem realmente manda. O paladar não aceita aquilo que não lhe apetece. Uma hora ele vai cobrar. E se deixarmos uma função irracional agir sem freios, ela nos devora.
Que nesse fim de ano possamos ter tempo para refletir sobre nossas reais motivações em nossa vida e poder separar o joio do trigo, no sentido de podermos sim aproveitar a fartura das ceias de natal e ano novo, mas que nossa relação com a ceia vá além de aproveitar e comer, e sim de saborear. Quando saboreamos, religamos nossos laços com nossas emoções mais profundas e só elas podem trazer o espírito de união que todos buscamos no Natal e Ano Novo.

Grãos de Areia pela Calçada – Por Rhodys R. SigristNo coletivo, nos perdemos. Passamos para a esfera do macro, do mais, ...
06/09/2017

Grãos de Areia pela Calçada – Por Rhodys R. Sigrist

No coletivo, nos perdemos. Passamos para a esfera do macro, do mais, da quantidade. Não importa nossas peculiaridades; elas se juntam com a de todos os outros. Seja na rua ou em casa, se queremos ir para o mundo real (ou virtual), teremos que nos deparar com a massif**ação. Conforme vamos nos acostumando, o coletivo entra em nós e ele passa a fazer parte da nossa individualidade. Em pouco tempo, sem que percebamos, começamos a pensar não mais de acordo com nossas crenças pessoais, mas com alguma coisa parecida com elas; um substituto que o coletivo nos deu para o que acreditamos.
Várias pesquisas na área de Psicologia mostram como nosso poder individual é reduzido quando o outro diz que o errado é o certo. Um exemplo é a pesquisa de Solomon. Ele tinha uma imagem com algumas listras e uma delas era a destoante das demais. Era perceptível ver qual era a errada, mas ele combinou com alguns ajudantes a apontarem para outra. Quando chegava o experimentado, Solomon perguntava a todos os outros qual era a imagem diferente. Todos falavam a errada, até chegar no participante, que sustentava a opinião dos demais.
É difícil perceber o quanto de nós é algo próprio e o que é puramente apropriação. Sempre nos apropriamos do que nos identif**amos, porém, ao se identif**ar demais, perdemos a individualidade. Não é incomum que essa vontade de ser único apareça de forma inapropriada. Basta abrir seu Facebook ou Instagram. Sempre haverá alguém inventando algo para se destacar, mesmo que seja por alguns dias.
O narcisismo exacerbado nos quer contar alguma coisa, um movimento; para onde estamos indo. E estamos ocupados demais servindo-o ao invés de escutando-o. Faz quanto tempo que você não tem uma segunda ou terça-feira livre para fazer o que quiser? Faz quanto tempo que sua rotina é montada por um terceiro cujo qual você nem conhece a família? Isso não quer dizer que o coletivo é um mal e que devemos largar tudo e morar na selva, mas a independência que tanto procuramos cada vez mais depende de outras pessoas que procuram o mesmo.
Muitas vezes (voltando para a parte das segundas-feiras livres) nosso corpo não resiste e acaba sucumbindo ao desgaste da rotina, e os dias livres viram uma prisão em si mesmo, onde não podemos nem aproveitar a vida fora da cama, nem dar sequência ao trabalho. O corpo quer mais cuidado, não aceita ser tratado como uma máquina. E isso inclui nossa mente também. E um tempo sozinho, desde que seja bem usufruído, não faz mal à ninguém.

Amanhã – Por Rhodys R. SigristA partir do momento que a humanidade começou a medir o tempo, o amanhã nasceu. Nenhum outr...
05/07/2017

Amanhã – Por Rhodys R. Sigrist

A partir do momento que a humanidade começou a medir o tempo, o amanhã nasceu. Nenhum outro ser sabe da existência do dia seguinte. E a descoberta do amanhã é algo relativamente novo: Alguns antropólogos relatam que várias tribos africanas se desesperam com a chegada da noite, como se o Sol nunca mais fosse voltar ou não tivesse um momento certo para voltar. Apenas a noção do amanhã nos tranquiliza em saber que existirá um outro dia que começará do zero, mais especif**amente às 00:00hrs.
Rainer Maria Rilke escreveu uma vez que “O tempo não é uma medida”. Ou seja, usar o tempo como uma espécie de “banco de experiências” onde depositar o máximo de realizações possíveis no menor prazo possível garantirá mais sabedoria, inteligência, aproveitamento e todas outras palavras usadas sem sentido nenhum, é na verdade uma grande perda de tempo. Nós nunca chegamos no amanhã porque ele nasce de novo na mesma hora que morre. Quando o amanhã de hoje chega, o próximo já está vivo. O tempo não tem pressa, inclusive ele ri da nossa pressa, pois ele sabe que apenas nós temos fim. O tempo é o nosso grande vazio sobre o que fazer com a nossa vida.
A percepção de que existe outro dia pode nos ludibriar e nos fazer queimar etapas. Quantas vezes acabamos tomando decisões rápidas imaginando que se algo não for vivido agora, não será vivido nunca mais? O medo do amanhã pode se assimilar ao mesmo tempo do passado, ou seja, continuar num vazio existencial onde não existe nada de bom a ser lembrado e nada de bom a ser feito, então as realizações sensoriais momentâneas tomam conta do presente, da mesma forma que o pôr-do-sol toma conta das tribos africanas arcaicas, onde tudo parece que vai apagar e não terá mais volta se não for feito agora.
O amanhã é o espelho do agora. Não sabemos se nossos planos darão certo, se alguma coisa vai dar errado e desmantelar tudo, se haverá uma boa surpresa. Só se sabe que existirá o amanhã, todos os dias, colocando-nos à frente dos nossos medos e inseguranças, mas também das nossas esperanças e sonhos. O amanhã é a grande prova de que a vida é feita por nós, mas que nem tudo depende de nós; se algo deu certo, foi porque deveria ter dado. Só o amanhã é capaz de reproduzir o que fizemos hoje, e não cabe a nós decidir se isso durará, pois o amanhã é senhor de si mesmo. Um dia não estaremos mais aqui, e ele estará por todo sempre.

Reconhecimento Gera Insatisfação – Por Rhodys R. SigristJames Hillman foi um homem muito além do seu tempo. Para ele, a ...
02/06/2017

Reconhecimento Gera Insatisfação – Por Rhodys R. Sigrist

James Hillman foi um homem muito além do seu tempo. Para ele, a alma era um assunto sério, não apenas uma expressão mística para se referir às estranhezas humanas. Ele não fez formação em psicologia ou medicina, como a maioria dos analistas. Foi direto ao que interessava: a literatura. Freud foi da medicina para a literatura. Teve medo de assumir seu dom em prol de constituir a psicanálise como uma ciência e recusou o Nobel de literatura. Se sacrificou e voltou atrás. No final de sua vida, priorizou mais a literatura que a ciência moderna; havia percebido onde estava a cerne da alma. Hillman jamais teve a pretensão científ**a que Freud teve; não estava interessado em formar uma nova área do conhecimento: Para ele, o assunto da alma tomava uma perspectiva que a própria psicologia estava negando em sua etimologia. Criticava a neutralidade passiva dos psicoterapeutas que se agarravam no título de cientistas e denominavam-se doutores do comportamento humano. Para ele, era tudo perda de tempo. Em homenagem aos progressos da psicologia clínica, escreveu o livro “Cem anos de Psicoterapia... E o mundo está cada vez pior”.
Quanto mais Hillman tentava entender a linguagem da alma, mais ele se voltava para os mitos, para a poesia e para as imagens. Era o seu cultivo. Cultivou tanto que sua alma foi para o mundo, a anima mundi. Saiu do claustrofóbico e escuro setting para ir às cidades, alcançar o mundo. Passou a andar pelas ruas e ver o que elas narravam. Via o esplendor das faraônicas catedrais esconderem em suas sombras os mendigos, prostitutas e loucos. Viu que o prodígio da civilização tinha embaixo um esgoto à céu aberto.
Hillman não foi o primeiro a ver essa realidade. Rainer Maria Rilke, poeta de língua alemã, bem mais antigo que o analista inglês, havia chegado na mesma conclusão. O trunfo de Hillman foi ter conseguido dizer isso para as pessoas que liam poesias e romances achando-os “bonitinhos”, sem mais valia do que isso. Ele, de alguma forma, tocou nesses seres fabricados por universidades que não olham, não escutam e não sentem. Digo trunfo, pois esses são os mesmos que estão cada vez mais negando a alma, que estão reduzindo ela a te**es, resultados, eficácia e adaptação.
O trabalho é árduo. É preciso uma boa dose de fascinação para crescer, e crescer como uma árvore que as raízes acompanham a copa. A psicologia é fascinante por se arriscar a ser o logos da alma, e ao mesmo tempo é frustrante as suas inúmeras pesquisas sobre inteligência, criatividade e personalidade que mais parecem uma tentativa de auto afirmação movida por um complexo de inferioridade perante as outras ciências. Afinal, quando será que teremos coragem de sair de onde estamos, de tirar nossos olhos do esplendor das catedrais e, ao baixar os olhos, vamos ver que, na nossa frente existe uma feiura que passamos a vida desviando por termos medo de chegar perto?

Rhodys R. Sigrist é Psicólogo Clínico e Escritor.

O propósito da Humildade – Por Rhodys R. Sigrist Quando aprendi a jogar xadrez, imaginei que seria simples pensar em est...
04/05/2017

O propósito da Humildade – Por Rhodys R. Sigrist

Quando aprendi a jogar xadrez, imaginei que seria simples pensar em estratégias para ganhar. Passaram-se mais de 4 anos e devo assumir que até hoje eu só vivo perdendo de forma vergonhosa, apesar de já ter mais segurança do movimento das peças. O mais curioso disso é que por todo esse tempo eu relutei para ler dicas sobre como melhorar o jogo ou criar estratégias. Estava crente que se eu jogasse mais, aprenderia muito melhor. E algumas coisas realmente aprendi, mas continuava sempre tomando cheque mate de uma hora para outra, quando tinha certeza que estava prestes a ganhar. Quando finalmente resolvi quebrar minha relutância e comecei a ler sobre o jogo, tudo aquilo que estava confuso começou a tomar sentido que me fez ver o quão cabeça dura eu estava sendo à toa por querer ser autodidata sem esforço. Obviamente dá para notar que tal atitude foi recente!
O ponto é que existem diversos pontos em nossa vida que relutamos tanto em fazer o caminho mais simples que esquecemos que o objetivo é exatamente ser mais simples. Afinal, o que eu teria de tão especial que eu poderia negar anos e anos de pesquisas de outras pessoas sobre xadrez, pessoas que até vivem disso, idealizando que só de aprender a mexer nas peças eu já seria melhor que Magnus Carlsen?
Sobre isso, Alfred Adler, um dos discípulos dissidentes de Freud, formulou uma teoria sobre o complexo de inferioridade. Bem basicamente, esse complexo se refere ao sentimento de fraqueza que experimentamos e embasa a maioria de nossas ações, por querermos constantemente reverter esse quadro de rebaixamento. Porém, quando nos preocupamos de forma austera em não sermos aquela pessoa fraca, acabamos por consolidar outro tipo de lógica que não segue a real e vivemos correndo contra ser um fracasso pessoal. O que acontece é exatamente o exemplo citado no início do texto.
Quando nos achamos suficientes ou insuficientes demais, criamos níveis que impedem que uma relação horizontal exista. Não conseguimos olhar para frente pois estamos muito preocupados em olhar para todos os outros lados, com certa paranoia desenfreada. Assim como no xadrez, que é imprescindível olhar para tudo que está acontecendo, é necessário ter a certeza de que o objetivo não foi perdido. É difícil fazer isso, requer prática e disciplina, e uma sem a outra é apenas, usando uma metáfora cotidiana, ir para a academia para f**ar cansado e não para malhar de verdade. Enquanto for impossível sermos humildes, continuaremos a viver a vida alheia.

Vida Adentro – Por Rhodys R. Sigrist A chegada do frio traz consigo outra dinâmica: Os corpos precisam de mais proteção,...
05/04/2017

Vida Adentro – Por Rhodys R. Sigrist

A chegada do frio traz consigo outra dinâmica: Os corpos precisam de mais proteção, o vento gelado uiva, os lábios trincam. Por conta disso, tudo se retrai. O corpo, o sorriso... tudo aquilo que no calor era convidativo, agora se esconde através da necessidade de se proteger.
Existe um magnetismo nessa frieza toda: O mundo não fornece mais o calor e luz necessários, a vida agora volta para dentro. As árvores em um inverno rigoroso perdem as folhas, exatamente o elemento que capta luz e calor. Em países que existem ursos, muitos se preparam para o frio literalmente se fechando em si; hibernando. Até mesmo em nós, é perceptível que a fome aumenta, o coração bate mais forte mesmo parado, tentando aquecer. O frio é a certeza de que o que há fora é importante, mas o que há dentro é vital.
O atrativo das pessoas ditas como “mais frias”, é exatamente este: Principalmente para quem é extrovertido e já tem uma boa relação com o que é exposto, encontrar alguém que parece uma árvore de casca grossa protegendo sua seiva é estranho. Qual seria a necessidade dessa pessoa se proteger tanto? O que ela esconde? É a curiosidade pela vida que há lá dentro chamando. A frieza desperta essa seiva bruta que não era sentida.
E sentir o que há dentro é um caminho perigoso. Não se sabe o que há lá, é tudo obscuro, cheio de regras próprias, não segue o percurso solar. Abrir essa casca pode ser perigoso; não se sabe o que ela protege. A necessidade de entrar e a impossibilidade de conseguir é um dos paradigmas mais fantásticos da relação humana. É pura alquimia, que se demorar demais ou for rápido demais, destrói possibilidades; pode condenar para sempre, sem retorno.
O vislumbre pela frieza parte do ponto que ela tem um mundo próprio. O Pequeno Príncipe de Saint-Exupéry viajava para outros mundos, adorava conhecer como funcionavam, mesmo que fossem estranhos ou até ridículos. Cada parte sensível em nós, que dói ou é chata de ser tocada é fria, carrancuda, áspera. Mas é ali que está nosso mundo, dentro de uma casca, que pode ou não eclodir, que se eclodir pode ser bom ou não. A grandeza desse mistério não é transferível em palavras, tampouco é possível de ser educada. Essa medida alquímica precisa de erros, de caminhos sem volta, de arrependimentos. Só assim é possível ser sensível o suficiente para amar o que há dentro de nós, seja isso bonito ou não. O que importa é que é precioso.

Se você se corrigir demais, nunca aprenderá – Por Rhodys R. Sigrist Não restam dúvidas de que observar e sentir que algo...
04/03/2017

Se você se corrigir demais, nunca aprenderá – Por Rhodys R. Sigrist
Não restam dúvidas de que observar e sentir que algo está errado é o caminho para se aprender algo novo. Até algo do estranho se tornar um pouco familiar ou ao menos reconhecível, precisa de repetições. Não é à toa que o aprendizado de alguma língua é sempre embasado em repetições, muitas vezes morosas, de sentenças simples e clichês gramaticais. Temos que nos desacostumar com o que consideramos familiar para entrar em outra família, outro signif**ado.
Quando o estranho não parece mais estranho assim, chega a hora de colocar em prática. Obviamente, mesmo contando com a famosa "sorte de principiante", os passos iniciais serão os mais difíceis: O pensamento e a boca não falam a mesma língua, o nervosismo atrapalha, temos que fazer um caminho mais longo, seguir o processo passo a passo; voltamos a ser crianças novamente. Esse é um ponto importante: Ao nos vermos regredidos, errando em pontos que sabemos que são simples, queremos crescer, sair da limitação do engatinhar e tomar o mundo com as próprias pernas; crescer verticalmente.
Dessa vontade de crescer surge a perfeição como uma possibilidade de domínio absoluto, alto grau de inteligência, a árvore que nunca para de crescer. Nesse desejo vertiginoso mora o perigo. Os lépidos passos parecem garantir um domínio mais rápido; devoramos as etapas. Sem a paciência para poder observarmos os próprios passos, perdemos a noção de onde estamos indo. É preciso parar e voltar, retomar um ciclo cheio de falhas.
Mas retomar nos atrasa, repete coisas a qual eu lembro que passei mas não sei como. Para que isso não ocorra mais, a obsessão pela perfeição toma conta: Cada minuciosa falha começa a ser corrigida. Uma vez, em uma roda de conversas com amigos, um comentário de um deles foi bem interessante: “Já parou para pensar que se fôssemos falar o português corretamente, não entenderíamos muitas sentenças? E que se levássemos a sério a regra gramatical, perceberíamos nossa comunicação com os outros está cheia de falhas?”. Realmente, se não tivéssemos um mínimo de tolerância aos erros, nossa comunicação seria praticamente impossível.
Precisamos ter uma flexibilidade que nos permita que haja uma comunicação sustentável. Quando digo sustentável é no sentido de sustentação mesmo, um lado poder ancorar o outro quando esse não souber se expressar tão bem. Experimente começar a falar em outra língua. O início é horrível e se alguém f**ar nos corrigindo constantemente, não existe possibilidade de haver uma comunicação. Precisamos de medidas até em nossas correções, ou acabamos por estancar as possibilidades que nossos erros proporcionam.

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