26/08/2020
Esse é o trecho de um livro incrível chamado “O Humano do Mundo”, escrito por Débora Noal (psicóloga que atua nos médicos sem fronteiras). Nesse parágrafo, ela aborda questionamentos sobre a atuação do psicólogo no período de epidemia de Ebola no Congo. Me recordo de ter lido esse livro no início da nossa pandemia, em meados de Março. E ao ler, senti como se tivesse ganhado um soco no estômago, pois ela conseguiu traduzir em palavras tudo o que eu estava sentindo questionando nos últimos dias. Com isso, fiquei pensando em como, numa realidade tão diferente, sentimentos tão similares eram gerados.
❤️E como estamos na semana do dia do psicólogo, achei importante mostrar meu lado humano (porque sim, nós psicólogos (as) também sentimos angústias, ansiedades, aflições). Em relação a isso, lembro que minha preocupação era em relação aos meus pacientes, de como eles enfrentariam ou estariam passando por este momento. De como eu iria poder promover cuidado sem o toque, sem o sorriso, estando “dois metros de distância” com máscara ou então por uma tela do computador?
Felizmente, em poucas semanas essa ansiedade e angústia foi transformada em adaptação. Logo eu, a pessoa que mais ama abraçar e receber abraços; que considerava esse início e final de sessão um momento super rico; que gostava de receber meus pacientes com meu melhor sorriso.... Tive que (re)descobrir formas e jeitos de dar afeto, atenção, carinho sem estar perto fisicamente. De se conectar sem tocar.
🌺E como eu encontrei essa adaptação? Me abrindo para as possibilidades que foram geradas em frente a essas “dificuldades”, não usando os “desafios” como limitações, mas sim como condições para promover possibilidades. E assim, foi o “fazendo diferente”, que encontrei caminhos onde o olhar e a palavra tornaram-se as nossas maiores formas de afeto.
Mas acho importante salientar que para criar novos caminhos, foi necessário sentir....
Primeiramente, sentir que nossa realidade tinha mudado e que isso traz sim, angústias. Depois, sentir o arriscar-se, o fazer diferente de tudo aquilo que foi feito até então. Para então, desfrutar da alegria de poder continuar tocando e fazendo aquilo que mais amo na vida: estar presente e ter a oportunidade de transformar as pessoas e as relações. E é por isso, que esse dia 27 será diferente, pois terá um significado de aprendizado, adaptação e superação.
E você, como tem lidado com as mudanças e transformações da pandemia?
🌸Leticia Heldt
🌸 Psicóloga Clínica
🌸 CRP 07/30.630