12/12/2021
Ontem recebi vídeos e áudio de uma mulher que sofreu vários tipos de violência obstétrica com um obstetra famoso, aquele 'tipo humanizado' que faz episiotomia de rotina, que deixa a mulher em posição ginecológica para parir, que grita "faz força, Porraaaaa", com todas as letras, várias vezes, xingando a parturiente em um momento de extrema vulnerabilidade. A violência obstétrica não acontece só no SUS como gostam de disseminar por aí, mas em hospitais de luxo também. Se a gestante tiver um bom plantonista no SUS, pode ter certeza que ela será mais respeitada do que em muitos consultórios chiques por aí. A violência obstétrica acontece no sistema público e no privado.
Estar com um médico influencer não garante que seu parto será respeitoso. Conheço muitos médicos excelentes e realmente humanizados que fogem das redes sociais pois não gostam de aparecer ou outros que divulgam o seu trabalho com muita informação e zero exposição das pacientes. Certamente eles não são tão populares, não saem na revista, nem estão ao lado de famosos. Mas, eles certamente sabem que aquele é um momento único para as suas pacientes e seus bebês.
Terminei recentemente minha pós-graduação em comunicação onde abordei o tema "Médico influencer: quando a fama interfere na ética". E na minha pesquisa vi um show de horror de tudo o que é postado por alguns médicos nas redes sociais. Em busca de fama, muitos expõe as pacientes, fazem propaganda de medicamentos, tiram fotos de antes e depois de procedimentos, enfim, fazem absolutamente tudo o que é proibido pelo Código de Ética Médica e na resolução sobre publicidade do próprio conselho de medicina.
Então, se posso dar um conselho é: procure um médico não pelos likes, mas converse com quem já pariu com ele. O famoso boca a boca vale mais. Outra dica é procurar doulas experientes e conversar com elas sobre os médicos. Ah, e não vale procurar "doulas da equipe" pois essas vão sempre defender a equipe. É preciso de uma avaliação isenta da conduta desses profissionais.
Violência obstétrica é violência de gênero e precisa acabar começando pela formação dos médicos que, no quesito parto, começa bem errada.