16/10/2025
REPOSTANDO
Sinusite
A sinusite é uma inflamação dos seios perinasais geralmente associada a um processo infeccioso que pode ser originado por vírus, bactérias ou fungos.
É, nos dias de hoje, uma das doenças mais frequentes da humanidade, mais geradora de consultas médicas, mais consumidora de antibióticos e pode interferir na qualidade de vida e no desempenho profissional e social.
Seios perinasais ou paranasais
Os seios perinasais ou paranasais são cavidades arejadas, forradas por uma membrana mucosa idêntica à das fossas nasais, que existem nos ossos da cara que rodeiam o nariz e que comunicam através de pequenos orifícios com as fossas nasais. Os diversos seios perinasais adquirem o nome dos ossos em que estão localizados. Assim existem os seguintes 4 tipos de seios nasais:
Frontais,
Etmoidais,
Maxilares,
Esfenoidais.
Os seios nasais desempenham várias funções, entre elas:
Humidif**ação e aquecimento do ar respirado pelo nariz.
Aumento da ressonância da voz.
Equilíbrio das pressões intracranianas quando há variações na pressão atmosférica (mergulhos, viagens de avião ou subidas a grandes altitudes).
Secreção de muco para proteção das vias aéreas superiores.
Absorção de impacto em casos de trauma (materiais ocos absorvem mais impacto do que materiais maciços).
Os seios perinasais são bilaterais e simétricos, ligam-se à cavidade nasal por pequenos orifícios por onde é drenado o muco produzido.
Quadros de alergia ou gripe, por exemplo, causam edema da mucosa nasal e aumento das secreções, obstruindo facilmente a drenagem dos seios da face. A impossibilidade de escoar o muco produzido leva à congestão dos seios perinasais e, consequentemente, à sinusite.
O termo rinossinusite (rinite+sinusite) é tecnicamente mais correcto que apenas sinusite, pois realça a inflamação simultânea da mucosa nasal e dos seios perinasais.
Sinusite - tipos
A sinusite pode afectar qualquer um dos 4 seios perinasais, podendo ser bilateral ou unilateral.
A sinusite por ser classif**ada em:
Aguda – quando os sintomas duram menos de 4 semanas;
Sub aguda – quando os sintomas duram entre 4 a 12 semanas;
Crónica – quando os sintomas duram mais que 12 semanas;
Recorrente – quando há 4 ou mais episódios de sinusite durante o ano.
A grande maioria das sinusites agudas são de origem viral ou alérgica, porém, a obstrução e acumulação, sem drenagem, do muco nos seios favorece a proliferação de bactérias, podendo levar à sinusite bacteriana.
Neste cenário o doente pode ter um quadro inicial de sinusite alérgica que, após contaminação com bactérias das vias respiratórias, se transforma num quadro de sinusite bacteriana que pode ser muito grave. As sinusites bacterianas que não são completamente curadas podem progredir para o quadro de sinusite crónica.
Causas da sinusite
Há várias causas por detrás de uma sinusite mas, todas elas têm como ponto comum uma deficiente drenagem das secreções nasais que, após se acumularem originam um foco infeccioso.
A alergia respiratória é uma causa importante e frequente porque a mucosa intumescida pela inflamação alérgica pode dificultar a drenagem dos seios perinasais e provocar a sua infecção. Nesta perspectiva, os principais agentes agressores são:
Pó doméstico,
Pólenes,
Pelos dos animais.
Porém, podemos ter sinusites provocadas diversas outras causas, tais como:
Infecções que afectam as vias aéreas, como a gripe e outras viroses respiratórias;
Más condições climáticas associadas ao frio e humidade, geradoras de uma resposta inflamatória da mucosa respiratória;
Traumatismos do nariz, com particular destaque para as mudanças bruscas de pressão associadas ao voo ou ao mergulho (causa cada vez mais frequente);
Poluição atmosférica, sobretudo a poluição automóvel e o tabagismo;
Má higiene nasal, por exemplo, naquelas pessoas que nunca se assoam ou têm o hábito de colocar os dedos dentro do nariz transportando, assim, para o seu interior os microrganismos neles existentes;
Má formação das cavidades nasais, com um particular destaque para os desvios do septo nasal.
Sinusite aguda e crônica
Há duas perspectivas. Na primeira, a temporal, diz-se que uma sinusite é aguda quando a sua duração se situa entre uma e quatro semanas; sub-aguda quando a sua duração se situa entre as quatro semanas e os três meses; crónica quando a sua duração vai para além dos três meses.
Porém, para além desta perspectiva simplista e temporal, há uma outra que tem a ver com a funcionalidade da mucosa nasal:
Após um episódio de sinusite aguda a funcionalidade da mucosa do nariz e dos seios perinasais é recuperada em pouco tempo, podemos considerar que na sinusite crónica essa funcionalidade pode estar definitivamente comprometida, originando que o doente apresente uma maior fragilidade e que os episódios recorrentes de sinusite aguda sejam mais frequentes.
Os sintomas uma sinusite
A sinusite tem uma expressão por vezes algo enigmática ou seja há sinusites muito extensas que têm pouca expressão clínica e, no pólo oposto, há sinusites mínimas que afectam muito signif**ativamente os doentes. Os principais sintomas são:
Obstrução nasal (nariz entupido),
Secreções nasais espessas e com pus (de cor amarela, verde ou castanha),
Dores de cabeça e/ou nos ossos da face, muitas vezes associadas a febre.
No entanto o leque de sintomas pode ser mais amplo, sendo habitual a existência de:
Diminuição ou perda do olfacto,
Mau hálito,
Tosse reflexa à escorrência das secreções nasais pela faringe,
Tosse nocturna,
Dor nos ouvidos e nos dentes do maxilar superior,
Dor à volta dos olhos.
Ouvido entupido,
Sensação de pressão quando baixa a cabeça,
Mal-estar,
Cansaço.
A maioria dos casos de sinusite viral ou alérgica melhora espontaneamente dentro de 10 dias. Sinusites bacterianas leves também podem ser autolimitadas, mas nos casos mais sintomáticos, com febre alta e coriza purulenta, a cura geralmente só vem com o tratamento antibiótico.
Estas queixas, mais acentuadas nas formas agudas, podem permanecer por longos períodos, naqueles doentes em que, por falta de uma abordagem adequada, a doença evoluiu para o estádio de cronicidade.
É comum a presença de dor quando fazemos pressão com os dedos sobre os seios nasais, principalmente nos seios frontais e maxilares, que são os mais superficiais.
A dor é um sintoma tão frequente que é vulgarmente aceite que não há sinusite sem dor. Apesar de poder ter diversas tonalidades a dor da sinusite reflecte a localização dos seios perinasais atingidos. Assim a dor pode localizar-se nos seguintes locais:
Na fronte em caso de sinusite frontal;
Por trás e entre os olhos na sinusite etmoidal e
Nas maçãs do rosto e dentes superiores nos casos das sinusites maxilares.
Já no caso da sinusite esfenoidal a dor é muitas vezes mais difusa e referida à parte frontal ou posterior da cabeça.
A sinusite pode ser grave
Sendo uma doença incomoda , na grande maioria dos casos ela é uma doença curável, sendo raras as complicações graves. No entanto algumas podem ser muito graves, tais como:
Meningite – infecção das meninges,
Infecção dos olhos,
Abcesso cerebral,
Otite,
Labirintite,
Osteíte – infecção dos ossos da cara,
Celulite – infecção dos tecidos moles da face,
Septicémia – infecção generalizada a todo o organismo.
Quando deve pedir apoio médico urgente
Como os seios da face apresentam íntima relação com órgãos nobres, como olhos, ouvidos e cérebro, a sinusite bacteriana pode levar a complicações graves. Portanto, é importante procurar consulta médica sempre que, associados à sinusite, existirem os seguintes sintomas:
Febre acima de 39ºC.
Edema ou vermelhidão na face.
Edema e vermelhidão em volta dos olhos.
Visão dupla ou qualquer outra alteração visual.
Confusão mental.
Dor de cabeça muito intensa.
Rigidez de nuca.
Prostração intensa.
A sinusite bacteriana, apesar de apresentar uma taxa de mortalidade baixa, é uma infecção que não deve ser negligenciada, principalmente quando existem os sinais descritos acima.
Como se faz o diagnóstico
Suspeita-se da existência de uma sinusite perante um doente que apresente uma situação clínica com as características acima apontadas. A confirmação é feita através de exames radiológicos – a tomografia computorizada – que define com precisão o estado de cada um dos seios perinasais (frontal, maxilares, etmoidal e esfenoidal) e pode evidenciar a existência de eventuais factores coadjuvantes, como pólipos ou desvios do septo nasal.
O tratamento desta doença requer uma abordagem especializada, na qual se definem com muita precisão três objectivos principais:
Reduzir a inflamação,
Promover uma adequada drenagem das secreções nasais,
Tratar a infecção.
Para conseguir estes objectivos é importante que o doente beba líquidos, no sentido de manter as secreções o mais fluídas possível. Recomenda-se, também:
Lavagem das fossas nasais com solutos salinos (soro fisiológico ) ou água termal,
Medicamentos fluidif**antes do muco nasal,
Descongestionantes nasais, estes, por períodos não superiores a cinco dias já que são produtos tóxicos para a mucosa nasal.
A infecção trata-se com antibióticos por períodos que oscilam entre os sete e os catorze dias nas sinusites agudas, e que se podem estender até às quatro semanas nas sinusites crónicas. É fundamental que não se interrompa o antibiótico antes do tempo prescrito pelo médico, como forma de prevenir eventuais recidivas e tendo em vista impedir o aparecimento de resistência por parte dos microrganismos infectantes.
Os corticoides nasais podem ser utilizados em tratamentos mais prolongados, porque em geral, são menos agressivos para a mucosa nasal (nomeadamente os cílios nasais), embora com mais efeitos secundários sistémicos que os descongestionantes nasais.
Por sua vez os descongestionantes são a melhor escolha em situações agudas até 3 dias de tratamento. A partir daí não devem ser usados, sem conselho médico, por causa da probabilidade acrescida de paralisarem os cílios nasais (pêlos do nariz) que ajudam a expulsar as mucosidades nasais para o exterior. Se estes “pêlos” estiverem paralisados aumenta a acumulação de secreções no interior do nariz e portanto a congestão nasal piora!
A cirurgia pode ser necessária
O tratamento da sinusite é, em princípio, um tratamento médico, sem intervenção cirurgica. Porém, em algumas situações deve recorrer-se à cirurgia. É o caso das sinusites em que o tratamento médico, adequadamente realizado, não se revela satisfatório (ineficácia dos antibióticos) e naqueles casos em que há obstáculos mecânicos que o tratamento médico não consegue resolver, tais como:
Sinusites associadas a signif**ativos desvios do septo nasal,
Pólipos,
Quistos volumosos.
A sinusite tem cura
No caso das sinusites agudas a resposta é claramente afirmativa, obtendo-se a cura no espaço de uma duas semanas quando o tratamento é o adequado e o doente cumpridor. Na sinusite crónica a resposta não é tão clara. A passagem ao estado de cronicidade provoca alguma deterioração nos mecanismos de defesa da mucosa dos seios perinasais. Assim, é de prever que o doente passe a apresentar maior fragilidade e tenha tendência a sofrer de episódios de inflamação/infecção sinusal com maior frequência.
Como se previne a sinusite
A prevenção da sinusite, tal como em qualquer outra doença, é o objectivo essencial. Na prevenção das sinusites entram um conjunto enorme de factores que se integram no que chamamos a “higiene nasal”, tais como:
Evitar todas as formas de poluição atmosférica,
Não contactar com substâncias que provocam resposta inflamatória alérgica do nariz,
Não colocar os dedos nem objectos estranhos no nariz,
Evitar ambientes em que a qualidade física do ar esteja fora dos padrões de qualidade (ar muito frio e húmido e ar muito seco),
Assoar-se com regularidade,
Controlar os episódios de rinite alérgica.
O controle das doenças-base é uma etapa obrigatória na prevenção das sinusites. Por exemplo, o não controle das alergias nasais (rinite alérgica) associa-se a um maior número de episódios de sinusite.
Apesar de não haver uma evidência científ**a que torne indiscutível o seu aconselhamento formal na sinusite, alguns doentes têm grandes resultados com os tratamentos termais, sobretudo nas sinusites crónicas, e com os medicamentos estimulantes da imunidade – os imunomoduladores.
Relativamente aos primeiros, temos um país riquíssimo em águas termais, estando referenciados trinta e sete estabelecimentos termais, a maioria no norte, com águas consideradas adequadas ao tratamento desta doença.
Os tratamentos com imunomoduladores, mais conhecidos por “vacinas” visam aumentar a imunidade dos doentes no que diz respeito aos agentes bacterianos, tornando-os assim mais resistentes às infecções. Não esquecer também, em determinados grupos de risco a vacinação antigripal anual.
Concluindo
Evitar as complicações da sinusite está ao alcance da imensa maioria dos doentes desde que devidamente informados sobre as regra básicas de higiene nasal que devem ter. Não são regras complicadas exigindo apenas alguma disciplina e vontade séria de evitar a doença que, muitas veze,s é encarada apenas como “incomoda ”, por não estarem cientes da gravidade que pode apresentar quando evolui sem controle!
Relembro apenas que, em casos extremos de infecção dos seios nasais, pode provocar doenças tão graves como meningite e septicémia! Por favor não se descuide!
POR :Franklim Fernandes
Fontes:
Fundação Portuguesa do Pulmão;
Dr Jaime Pina, pneumologista e alergologista;
Dr Pedro Pinheiro. especialista em Medicina Interna.
Dr. Mansour ( IN MEMORIAN )
Clínico Geral e
Otorrinolaringologista adulto e infantil