01/01/2022
De solavanco, como comumente nós que somos distraídos respondemos, me pus em direção ao caixão, e lá encontrei eu, repousando com semblante cansado, como de alguém que percorrera uma longa jornada, mas leve, como daquele que concluiu do modo que pôde as suas 12 tarefas. Um sacerdote, com um punhal em mãos, foi me cortando em pedaços e atirando aos pássaros que ali estavam, consumando meu último ato de generosidade de alimentar outros seres. Ao fim, meus ossos performaram uma estranha dança e encontraram também alguma utilidade aos que ficavam, pois é dito que nada se perde. Os pássaros, subindo aos céus, explodiam em cores, fazendo sons graves e agudos, causando grande comoção em todos os presentes. Foi então que Janus virou sua cabeça, e da face velha e barbuda que nos encarava se transformou em uma bela e jovem criança.
Costumo dizer que vida e morte são dois lados de uma mesma moeda, uma moeda que por ora vamos chamar de “transformação”. A natureza precisa de ciclos, de fins e novos começos, assim como nós. Que possamos deixar o rito de hoje nos salgar, e junto da lua minguante generosamente abandonar alguns vícios, convicções, sentimentos, etc., até sobrar só o que convém, ou ao menos dar um primeiro passo nesse sentido. Que possamos morrer e renascer, assim como nos contavam os grandes deuses e heróis. E que encontremos a motivação e os meios corretos, para abrir caminho para um novo ciclo em que a compreensão e o amor ditem o tom.
Feliz 2022!!!