06/05/2022
Hoje, 06 de maio de 2022, celebramos o nascimento de Freud, pai da psicanálise, judeu e ateu. Entretanto, quero neste dia fazer um pequeno paralelo entre o analista e o sacerdote.
1. Experiência pessoal do analista e do sacerdote:
Um cirurgião não necessita ter sido operado para estar apto a tal procedimento, mas essa não é a realidade do analista e do sacerdote: ambos precisam estar em contínua experiência com O/o que professam. Freud afirma que “aprende-se psicanálise em si mesmo, estudando-se a própria personalidade.” Também diz que “a psicanálise é um instrumento que capacita o ego a conseguir uma progressiva conquista do id.” Paulo estabelece prerrogativa semelhante aos que almejam servir no templo. O Apóstolo diz que tais devem estar "conservando o mistério da fé" e que "também sejam estes primeiramente experimentados" (1 Timóteo 3:9 e 10).
Jorge Forbes afirma que “ninguém consegue conduzir uma análise além do ponto que conduziu sua própria.” Da mesma forma, é inconcebível um legítimo sacerdote sem, ou limitado, em experiências com Deus, para não estagnar a fé do rebanho ou ser repreendido pelo mestre como “homens de pouca fé” ou pior, “geração incrédula e perversa!”
2. O exercício do analista e do sacerdote implicam em sacrifício:
“Há a palavra com a qual o analista acolhe o seu analisando; depois, cada vez mais, o analista passa a diminuir o uso da palavra comunicacional e a utilizar o gesto.” Nessa frase, Forbes deixa explícito que o analista é alguém que faz silêncio em si, mortificando seu desejo enquanto sujeito e se colocando como objeto do desejo do analisando, possibilitando que este possa então, no silêncio, se ouvir. Ele “se cala na compreensão para que o falador possa dizer aquilo que deveria ser compreendido”. Um analista se sacrifica ao calar não apenas sua voz, mas seu eu, sendo "opaco aos seus pacientes e, como um espelho, não mostrar-lhes nada, exceto o que lhe é mostrado." (Freud) E o sacerdote, mais do que os demais cristãos, precisa atender ao rogo paulino de Romanos 12:1-2, para conduzir o rebanho ao “sacrifício vivo” abnegando-se em prol de algo maior.
3. Analista e sacerdote se deparam com conflitos:
O analista está sempre diante do conflito psíquico enquanto a sacerdote está diante do conflito entre a carne e o espírito. Aqui a fala de Paulo serve para ambos: “quem faz isto já não sou eu.”
4. Analista e sacerdote estão diante da culpa, do amor e da verdade:
Forbes declara que “a neurose protege o sujeito da realidade, pois nela há sempre alguém para se culpar.” Enquanto sacerdotes, vemos a culpa no sujeito e a responsabilização de um outro ser humano ou espiritual.
O cabeça da Psicanálise afirma que “o relacionamento analítico se baseia no amor à verdade — isto é, no reconhecimento da realidade — e que isso exclui qualquer tipo de impostura ou engano” (Freud). Enquanto Paulo diz: “seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo”. (Efésios 4:15)
Por fim, uma antítese: “O analista é governado por uma causa [...] inscrevendo-a no mundo por conta e risco de quem a inscreve.” Enquanto o sacerdote tem Cristo como Cabeça, e como filho de Deus é “guiado pelo Espírito de Deus” para quem prestará contas de cada alma que lhe foi confiada, pois “àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido.” (Lucas 12:48)