12/05/2021
Eu vivia entre vocês, imaginando que fosse eterna a minha função de unir corpos pelo afeto ou pelo mais cerimonial encontro. Eu, o abraço, sempre fui na cultura latina uma parte indissociável do ato de existir socialmente. Você me tinha como recurso de encontrar gente e dizer várias coisas. Eu poderia significar “que bom te reencontrar”, “muito prazer”, “eu te amo”, “que saudade”. . . como uma moldura para os instantes.
Mas...minha cota de sacrifício para a humanidade, durante a pandemia, seria o exílio. E não haveria data previsível para meu retorno como parte do sol dos dias. O futuro me acolheu como única casa, e é aqui que estou fazendo meu isolamento social.
Eu vi você se assustar, eu vi você minimizar o que está acontecendo, eu vi você até negar a importância de todas as novas ações de preservação da vida.
Como lidar com o vazio de mim em seu cotidiano?
O que pode entrar no lugar do abraço que foi morar no futuro pós-pandemia?🤔
Até você encontrar a resposta para essa pergunta, vale chorar, sentir raiva, morrer de medo, gritar de saudade, e, enquanto isso, continuar trabalhando e cuidando da casa e dos filhos, enquanto se encanta com a borboleta🦋 que entra de repente na janela da cozinha. Não há resposta simples para nenhuma ausência da vida. Ausência precisa ser sentida para, depois, a vida poder seguir adiante. Eu me transformei num dos lutos de seus dias.
E, aqui, me despeço, neste futuro. A esperança 🙏está aqui ao meu lado, sorrindo para tudo o que eu lhe escrevo. A esperança acaba de me dar as mãos. E, juntas, lhe daremos as boas-vindas ao futuro, quando for a hora precisa dele existir para você.💛
Trechos selecionados pela .kelli da CARTA DO ABRAÇO do livro Cartas de um terapeuta para seus momentos de crise, do psicólogo e terapeuta familiar, de casais e grupos, Alexandre Coimbra Amaral.