20/07/2017
Vamos relembrar alguns pontos sobre a Hanseníase?
A Hanseníase é uma doença crônica, infecciosa, causada pelo Mycobacterium leprae, que afeta a pele, o sistema nervoso periférico e, ocasionalmente, outros órgãos e sistemas; podendo causar deformidades incapacitantes.
Transmissão
O homem é considerado a única fonte de infecção da hanseníase. A transmissão se dá por meio de uma pessoa doente, sem tratamento, que elimina o bacilo para o meio exterior infectando outras pessoas suscetíveis. A principal via de eliminação do bacilo pelo doente e a mais provável via de entrada deste no organismo são as vias aéreas superiores, através de contato íntimo e prolongado, e em geral ocorre no ambiente domiciliar.
Quadro clínico
Os principais sinais e sintomas da doença são: manchas esbranquiçadas, acastanhadas ou avermelhadas na pele, com alterações de sensibilidade (formigamentos, choques e câimbras que evoluem para dormência); pápulas, infiltrações, tubérculos e nódulos, normalmente sem sintomas; diminuição ou queda de pêlos, localizada ou difusa, especialmente sobrancelhas; falta ou ausência de sudorese no local.
As lesões da Hanseníase geralmente iniciam com hiperestesia (sensação de queimação, formigamento e/ou coceira no local), que evoluem para ausência de sensibilidade (não coçam, dormentes, com diminuição ou perda de sensibilidade ao calor, a dor e/ou ao tato em qualquer parte do corpo).
Outros sintomas e sinais observados: dor e/ou espessamento de nervos periféricos; diminuição e/ou perda de sensibilidade nas áreas dos nervos afetados, principalmente nos olhos, mãos e pés; diminuição e/ou perda de força nos músculos inervados por estes nervos, principalmente nos membros superiores e inferiores e por vezes, pálpebras; edema de mãos e pés; febre e artralgia; entupimento, feridas e ressecamento do nariz; nódulos eritematosos dolorosos; mal estar geral; ressecamento dos olhos.
Diagnóstico clínico
O diagnóstico de caso de hanseníase é essencialmente clínico por meio da anamnese e exame físico dermatoneurológico para identif**ar lesões ou áreas de pele com alteração de sensibilidade e/ou comprometimento de nervos periféricos (sensitivo, motor e/ou autonômico).
Deve-se abordar, na anamnese, além das questões rotineiras, a presença dos sinais e sintomas: alguma alteração na pele - manchas, placas, infiltrações, tubérculos, nódulos, e há quanto tempo eles apareceram; possíveis alterações de sensibilidade em alguma área do corpo; presença de dores nos nervos, ou fraqueza nas mãos e nos pés e se usou algum medicamento para tais problemas e qual o resultado.
O exame dermatológico consiste na identif**ação de lesões de pele por meio de inspeção de toda a superfície corporal do paciente e realização de pesquisa de sensibilidade térmica, dolorosa e tátil nas lesões e/ou áreas suspeitas para verif**ar qualquer alteração. Para avaliar a sensibilidade ao calor, usar um tubo com água quente e fria, para a sensibilidade a dor, usar a cabeça de um alfinete e para a sensibilidade ao tato, um chumaço de algodão.
O exame neurológico compreende a inspeção, palpação, percussão e avaliação funcional (sensibilidade, força muscular) dos nervos. Os principais troncos nervosos periféricos acometidos na Hanseníase e que devem ser examinados são: trigêmeo e facial - podem causar alterações na face, nos olhos e nariz; radial, ulnar e mediano - podem causar alterações nos braços e nas mãos; fibular comum e tibial posterior - podem causar alterações nas pernas e nos pés.
A inspeção dos olhos consiste em perguntar ao indivíduo se sente ardor, coceira, vista embaçada, ressecamento dos olhos, pálpebras pesadas, lacrimejamento, ou outros sintomas. Deve ser verif**ado se existem nódulos, infiltrações, secreção, hiperemia, madarose, triquíase, ectrópio e lagoftalmo, ou opacidade da córnea. Ainda deve ser verif**ado se há alteração no contorno, tamanho e reação das pupilas, e se as mesmas apresentam-se pretas ou esbranquiçadas.
Na inspeção do nariz, pergunta-se se o este está entupido e se há sangramento ou ressecamento do mesmo. Deve ser verif**ado as condições da pele, da mucosa e do septo nasal, bem como se há perfuração do septo nasal, desabamento do nariz ou outros sinais característicos da doença. A mucosa deve ser examinada, verif**ando se há alteração na cor, na umidade, e se há crostas, atrofias, infiltração ou úlceras na mucosa.
Quanto aos membros superiores, deve ser questionado sobre a possível diminuição da força, dormência, ou outros sintomas. Inclui, também, a verif**ação da existência de ressecamento, calosidades, fissuras, ferimentos, cicatrizes, atrofias musculares e reabsorções ósseas. Nos membros inferiores, investiga-se a possível existência de dor, dormência, perda de força, inchaço, ou outros sintomas. Deve ser verif**ado se há ressecamento, calosidades, fissuras, ferimentos, úlceras, cicatrizes, reabsorções ósseas, atrofias musculares, ou outros sintomas. A observação da marcha do paciente que pode apresentar características de comprometimento neural não pode deixar de ser feita.
Diagnóstico laboratorial
A baciloscopia é o exame microscópico em que se observa o Mycobacterium leprae, diretamente nos esfregaços de raspados intradérmicos das lesões hansênicas ou de outros locais de coleta selecionado.
É um apoio para o diagnóstico e também serve como um dos critérios de confirmação de recidiva quando comparado ao resultado no momento do diagnóstico e da cura.
Por nem sempre evidenciar o Mycobacterium leprae nas lesões hansênicas ou em outros locais de coleta, a baciloscopia negativa não afasta o diagnóstico da hanseníase.
Referências
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Vigilância em Saúde: Dengue, Esquistossomose, Hanseníase, Malária, Tracoma e Tuberculose. 2. ed. rev. Brasília: Ministério da Saúde, 2008.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia para o Controle da hanseníase. Brasília: Ministério da Saúde, 2002.
KUMAR, V.; ABBAS, A. K.; FAUSTO, N. Robbins & Cotran: Bases patológicas das doenças. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
Kumar,V; Abbas, A. K; Fausto, N. SEGURADO, A. C.; CASSENOTE, A. J.; LUNA, E. de A. Saúde nas metrópoles – Doenças infecciosas. Estudos Avançados, v. 30, nº 86, p. 29 – 49, Abr 2016.
SOUZA, C. S. Hanseníase: formas clínicas e diagnóstico diferencial. Medicina, Ribeirão Preto, v. 30, p. 325-334, 1997.