29/10/2025
Esses dias, um paciente novo perguntou quem era a mulher na minha parede.
Depois, olhou para o lado e quis saber quem era o homem ao lado dela.
Respondi com brevidade:
Nise da Silveira, psiquiatra.
Arthur Bispo do Rosário, paciente.
Ele então disse:
“Devem ser pessoas importantes… a gente não coloca na parede quem não é.”
A sessão podia ter sido sobre Nise e Bispo,
mas, no fim, foi sobre isso:
sobre quem a gente escolhe colocar nas nossas paredes.
No início da vida, são paredes brancas.
O Outro vai pintando nelas suas cores,
e nos ensina a ver o mundo em duas tonalidades,
como se não houvesse espaço para nuances.
Na adolescência, alguns rostos e gostos vão sendo estampados,
experimentos de identidade antes de se saber o próprio traço.
Na vida adulta,
a gente começa a escolher o que f**a e o que sai da parede.
Tira alguns quadros herdados, pendura outros que falam mais de nós.
Às vezes deixa espaço vazio,
para dar lugar e respiro.
E talvez seja isso o mais interessante:
perceber que as paredes também mudam,
assim como quem as habita.
Há quem pendure diplomas,
quem pendure amores,
No fundo, cada parede é um retrato interno:
De histórias.
De quem admiramos,
ou do que precisamos lembrar para não esquecer quem somos ou queremos ser.