24/07/2025
Pega o lencinho, aperta o cinto e vem comigo!
Memórias de um caracol (2025), é um filme tão humano e profundo que desmonta qualquer tentativa de superficialidade. A animação em stop-motion é daquelas que entrega tudo e mais um pouco. Se ainda não assistiu, pare por aqui e volte depois (contém spoilers!).
Acessamos as memórias de Grace Pudel e do seu irmão Gibert: vemos como seus pais se conheceram, seu nascimento e descobrimos como seu pai era um homem especial e cheio de sonhos. Por ter nascido com a saúde frágil, ela se relaciona com o mundo de forma diferente. Gilbert a protegia dos insultos na escola, mas não das dores da vida. De uma forma especial, eles se completavam.
Nesse ponto, percebemos como a infância pode ser dura. As fantasias e brincadeiras não protegem a criança do luto nem do sofrimento profundo. Se chegarmos à fase adulta, talvez possamos nomear o que vivemos.
Similar a um processo terapêutico, investigamos e revisitamos o passado de Grace e Gilbert, para então compreender que essas memórias revelam quem são no presente.
E então, os caracóis ganham significado: proteção, conexão com a vida, casa… e, por que não, a lentidão que é acompanhada de um quadro depressivo profundo. Que é intensificado pelo luto, desamparo e rompimento abrupto com o irmão.
Grace passa boa parte da vida tentando se “sentir melhor”, enfrentando ansiedade, medo, solidão e a ausência do irmão.
Gilbert, por sua vez, é explorado por fanáticos, um ambiente tão árido que parece matar todos os sonhos. Temo que o fogo de Gilbert se apague, e toda aquela rebeldia sucumba à doutrinação religiosa. Que ao invés de consolar e promover esperança, humilha e castiga, pois, não sabe o que é amor.
Mas ele resiste. O quanto dele sobrevive? Não sabemos.
Grace encontra Pinky, uma senhora espirituosa que vive a velhice com sabedoria. Sem tempo a perder, ela é um bálsamo diante de tanta dor. Ensina que um bom ENCONTRO vale mais do que muitos desencontros. A amizade verdadeira revela o melhor de nós, nos convida a viver e devolve a esperança.
Talvez a vida seja isso: seguir em frente. Rir das pequenas belezas —apesar de tudo.
Já viu o filme? O que achou?